Cacique transexual de MT inicia transição de gênero
A cacique da Aldeia Apido Paru, da terra indígena Tadarimana, em Rondonópolis, a 218 km de Cuiabá, Majur Traytowu, 30 anos, iniciou neste mês a transição de gênero. De acordo com a líder indígena, a intenção é ir com calma e, inicialmente, transformar o seu corpo com o uso de hormônios.
“Estou fazendo o processo de transição, mas, por parte. Primeiro quero mudar o meu corpo com hormônios e o procedimento já comecei. Futuramente vou para parte de cirurgia. Estou muito feliz mesmo vendo o resultado, não somente eu, mas tem outras pessoas que estão curiosas de como será a minha mudança daqui para frente”.

Majur começou o tratamento hormonal, de forma particular, em 26 de outubro e depois de três meses passará pelo retorno médico.
“Tentei pelo SUS, mas devido a pandemia não continuei. Mas esse ano fiz particular e tive que pagar para fazer esse procedimento. Depois de três meses vou ser chamada para ver como está a situação, se está fazendo efeito, se irá alterar a medicação ou continuar com a mesma”.
A líder indígena ficou conhecida nacionalmente ao assumir o cargo de cacique, após o seu pai, Raimundo Itogoga, 79 anos, deixar a função por problemas de saúde.
“O meu pai teve queda de pressão e precisamos levar ele ao hospital. Lá descobri que ele estava com pressão alta. A partir disso, comecei a tomar essa posição de cacique, de mostrar que estava ali para assumir o cargo”.

A jovem exerce a função de cacique desde julho deste ano. Contudo, revela que não enfrenta dificuldades, pois acompanha o pai desde cedo em suas atividades.
“Pra mim, está sendo tranquilo. A gente já conseguiu muita coisa no decorrer do tempo que fui nomeada para assumir o cargo de cacique. Mas, antes disso, sempre estive do lado do meu pai ajudando, as coisas que aconteciam em nossa aldeia passavam por mim, para que eu pudesse aprovar”.
Cacique assume cadeira em Fórum Municipal
Em 23 de novembro de 2020, a jovem foi eleita para assumir uma vaga no Fórum Municipal da Juventude, espaço que considera importante para visibilidade LGBTQ+ dos povos indígenas.
“Não é possível fazer políticas públicas sem ouvir o que temos para dizer. Indígenas precisam ocupar os espaços para que transformações estruturais aconteçam. O fato de eu estar aqui já diz muito, mas ainda temos um grande caminho pela frente”.

Se descobrindo ‘trans’
A indígena afirma que se descobriu transexual aos 12 anos e que os demais indígenas nunca tiveram problemas em aceitar isso. Aos 27, quando a família fundou a aldeia, passou a ajudar o pai nas decisões.
Em geral, caciques são escolhidos por votação a cada dois anos, mas Traytowu afirma que não houve resistência dos demais ao virar cacique, mesmo sem eleição. A Tadarimana tem cerca de 800 indígenas em sete aldeias, em uma área de 10 mil hectares.