Jamil Name Filho e O Exorcismo de Emily Rose
O julgamento do chefe de uma milícia que reinou durante 40 anos fez o colunista lembrar de um filme em que um padre vai pro banco dos réus
Jamil Name Filho já é condenado por ser o chefe de uma organização criminosa ligada ao jogo do bicho e a crimes como corrupção, extorsão, porte ou posse de armas e assassinatos.

Nesta semana, esteve no banco dos réus junto com dois de seus gerentes do crime.
Apesar das provas levantadas pela investigação gigantesca da operação Omertà, a sociedade sul-mato-grossense ainda resistia em acreditar que homem tão poderoso pudesse pagar pelos seus crimes como qualquer pessoa comum.
Milionário, amigo íntimo de políticos e de representantes da polícia e da justiça, acabou condenado a 23 anos e meio de cadeia por mandar assassinar um ex-desafeto.
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No que parece enredo de um filme, os pistoleiros contratados erraram feio e mataram o filho do alvo, um estudante de Direito de 20 anos que manobrava o carro do pai para buscar o irmão mais novo na escola.
Os sete tiros de fuzil Ak-47 com alto poder de destruição fizeram com que o enterro precisasse ser feito com o caixão fechado.
Essa descrença ou fé na Justiça me lembrou de O Exorcismo de Emily Rose, filme de 2005 que está disponível na HBO Max. O padre Richard Moore vira réu depois que a garota do título, uma estudante de 19 anos – Matheus, a vítima da Jamil Name Filho, tinha 20 –, morre depois de passar por um exorcismo feito por ele.
Tudo o que envolve um júri está lá. A escolha do promotor que vai dar credibilidade à tese da acusação. O escritório de advocacia que precisa ganhar de qualquer jeito a ponto de oferecer sociedade à advogada em ascensão que acabou de livrar um psicopata da cadeia.
E pra dar mais dramaticidade à trama, o promotor que acusa o padre de negligência é religioso. A advogada que o defende, agnóstica.
Um julgamento que coloca os limites da fé no centro da discussão.
O júri vai condenar um padre por lutar contra o demônio? Vai absolvê-lo e deixar dar brecha para que ações sobrenaturais justificam perdas de vidas?
Emily, de uma família rural do interior dos Estados Unidos, consegue uma bolsa para estudar na universidade. Ela se muda para o alojamento dos estudantes.
Numa noite, acorda com um barulho e cheiro de queimado. Claro que está sozinha. A colega de quarto viajou. Acontece o primeiro ataque. Daí pra frente a coisa só piora para a estudante.
E pra quem está assistindo. Afinal, o roteiro é baseado na história real da alemã Annelise Michel, morta em 1976 após ser submetida a um ritual de exorcismo por dois padres.
Então, a gente já começa a pensar: ops, se aconteceu com ela, pode acontecer comigo também.
No tribunal, o promotor tenta provar que Emily tinhas problemas de saúde como epilepsia e psicose, por isso, precisava tomar medicamentos.
Mas o padre a convenceu de interromper a medicação. Por isso a negligência.
Quem já viu outros filmes de exorcismo sabe que é preciso conhecer o nome da entidade que habita inadvertidamente o corpo possuído pra que ele seja expulso durante o ritual.
A cena em que isso acontece surpreende não pela quantidade revelada. Mas pelos nomes dos capirotos que estão dentro da menina. Pessoalzinho da pesada. Pazuzu – de O Exorcista – é fichinha perto da galera do mal apresentada.
Alguns fãs de terror, no entanto, torcem um pouco o nariz para o filme.
O diretor e roteirista Scott Derrickson equilibrou as cenas de tribunal com as de terror. Isso fez com que aumentasse o acesso ao filme, claro. Há uma grande gama de pessoas que gostam de filmes de tribunais – eu sou uma delas. E outra, de terror – opa! Também sou uma delas.
E, também, não curto filmes de possessão em que o possuído ganha poderes sobrenaturais a ponto de conseguir escalar paredes. Isso acabou entrando no rol das cenas obrigatórias desse tipo de filme e – com o perdão do uso da expressão neste contexto – graças a Deus, Emily Rose não tem.
Agora, lembram do menininho contorcionista de Invocação do Mal 3? Ficaram impressionados? Então, vai ver só o que os capetas fizeram com os ossos de Emily…
Ainda sobre os críticos, também não achei que há uma defesa religiosa tão efusiva como já ouvi críticos falarem. Acho que Derrickson achou uma maneira de ficar bem em cima do muro.
Por isso, pra mim, o Exorcismo de Emily Rose é sempre uma boa pedida como entretenimento. Assisti ao filme no cinema há quase 20 anos. E voltei a vê-lo, agora, pra escrever a coluna. Continuei gostando.
Apesar, preciso confessar, ter ficado muito mais empolgado com as cenas reais de tribunal vivenciadas no júri de Jamil Name Filho e dos capangas durante esta semana.
O portal Primeira Página transmitiu ao vivo. Os embates entre os promotores e os defensores deixavam qualquer um tenso.
Os argumentos de uns e de outros faziam com que, a cada hora – pra quem não acompanhou o caso de perto desde o início – tendesse a mudar de opinião.
Isso é mérito total dos envolvidos na defesa e na acusação.
Tinha advogado de voz doce. Fala pausada, professoral. Tinha advogado fazendo teatrinho igual aos das escolinhas infantis em que um dá uma deixa pro outro completar. E, claro, os promotores raivosos batendo nas mesas e gritando nas palavras-chave de cada argumento.
Em o Exorcismo de Emily Rose, a advogada vivida por Laura Linney é insegura porque, apesar de cética e capitalista, começa a acordar toda noite às 3 da manhã com alguma perturbação.
Você sabe o que significa o horário das três da manhã? Bem, vou escrever aqui. Mas se teu relógio, biológico ou não, te acorda a essa hora de vez em quando, é melhor pular esse parágrafo.
Jesus Cristo teria morrido às 3 da tarde. Então, 3 da manhã seria o horário preferido dos demônios para confrontar o salvador e atazanar a vida de alguns insones.
Pronto. Agora você está oficialmente com medo desse horário.
Se escutar barulho e cheiro de queimado, então, melhor procurar logo um padre. Mas cuidado. É bom avisá-lo do que acontece em O Exorcismo de Emily Rose.
Se até Jamil Name Filho foi condenado, coitado do padre.