Crédito do trabalhador: alívio financeiro ou risco de dívida?
Programa busca aliviar dívidas, mas falta de transparência e riscos ao FGTS acendem alerta sobre um possível ciclo de inadimplência.
O Novo Crédito do Trabalhador, iniciativa do governo, lançado no último dia 21/03, surgiu com a promessa de oferecer condições mais acessíveis de financiamento para os trabalhadores que estejam sob o regime da CLT e que estejam precisando de suporte financeiro imediato. No entanto, será que essa medida realmente beneficia os trabalhadores ou pode se tornar uma nova forma de endividamento e precarização financeira?

Nos últimos anos, o governo tem lançado diversas iniciativas para facilitar o acesso ao crédito por parte dos trabalhadores, mas a dúvida que sempre surge diante destas iniciativas é se a população tem a consciência financeira suficiente para direcionar o recurso a quem terá acesso através dessas medidas de estímulo econômico ou se isso não trará para essas pessoas uma alavancagem financeira ainda maior.
E são esses embates que vêm povoando a chegada do novo crédito trabalhador. Com essa injeção de capital no mercado sem uma contrapartida de educação financeira, a preocupação é se essa medida não impactará ainda mais o endividamento e inadimplência dos trabalhadores do regime celetista.
O governo está apostando alto nesse novo consignado. Mas já nos primeiros dias o governo tem enfrentado desafios, além das críticas quanto à falta de educação financeira do brasileiro. Outro ponto de atenção é sobre o fato do programa contar com o uso do FGTS como garantia deste empréstimo. Isso pode ser muito porque, muitas vezes, o FGTS é a última saída do trabalhador. Isso significa que, se o trabalhador perder o emprego, a poupança que ele teria para sobreviver até arrumar outro trabalho está comprometida.
Se o trabalhador for demitido e ainda houver algum saldo devedor do empréstimo, esse valor será cobrado no próximo vínculo de emprego que o trabalhador tiver.
Além disso, diferente do que foi divulgado pelo Governo, os juros seriam até 60% mais baixos do que as linhas de crédito tradicionais. E não é isso que ainda se vê nos retornos das simulações que se tem visto. Os juros ainda são muito altos nas solicitações de proposta, juros acima dos 3% em sua maioria. Obviamente, o valor dos juros depende muito de cada pessoa, já que o comportamento de crédito, negativações, restrições e histórico de crédito são alguns dos critérios que impactam na formação do preço do empréstimo. Mas ainda é possível encontrar empréstimos com juros menores sendo oferecidos fora do programa.

Com o intuito de tentar abrandas as críticas e os pontos negativos que vem surgindo no decorrer da última semana o Governo divulgou que o Senado vem preparando uma campanha com viés de educação financeira que tem como foco a utilização consciente desse novo crédito consignado.
O direcionamento base é usarem o novo Consignado para pagar dívidas com juros maiores (Cheque Especial, Rotativos do cartão de crédito, Empréstimos Diretos, que nada mais é do que o crédito pessoal contratados juntos aos bancos.
Acredita-se que a tendência é que as taxas de juros ainda venham a baixar, já que os grandes bancos ainda não aderiram ao programa e ainda não está regulamentada a utilização do FGTS como garantia, o que está previsto para acontecer em até dois meses. Dessa forma, se o trabalhador puder esperar, vale aguardar mais algumas semanas para solicitar o crédito já que com um número maior de instituições financeiras participando do programa a concorrência acaba se tornando benéfica aos contratantes.
Por isso, é importante o trabalhador não aceitar a primeira proposta que receber, o ideal é esperar por uma proposta com juros mais baixos a fim que a parcela que for contratada não impacte no orçamento mensal.
A partir do próximo dia 25/04, inclusive, os trabalhadores que já possuem empréstimos com desconto em folha ou mesmo um CDC poderão migrar o contrato existente para o novo modelo criado pelo programa. A ideia é que a migração seja feita por meio do aplicativo. E a partir de junho de 2025, o trabalhador poderá também trocar de empréstimos já contratados pelo aplicativo por outros ainda mais vantajosos, se disponíveis.
Diante disso, reforçamos mais uma vez a importância de um bom planejamento financeiro e consciência no momento de aderir a uma linha de crédito considerando que se não for uma contratação necessária e respaldada por consciência financeira isso poderá comprometer todo um futuro que ainda está pela frente.

O que estamos certas é que diante das incertezas e desafios que se vem percebendo com esse novo crédito do trabalhador, é essencial um debate aprofundado sobre seus impactos reais. Sem medidas que garantam condições mais justas, o que deveria ser um alívio financeiro pode se tornar um novo ciclo de endividamento.
Isso tudo nos leva a pensar e nos gera a preocupação de que estamos realmente promovendo inclusão financeira ou apenas transferindo o problema para o futuro?
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