O seu cartão de crédito é uma navalha?
Se você quiser comprar alguma coisa, certifique-se: Você tem como pagar por ela?
Como o saudoso Cazuza descreveu bem as duas faces do Cartão de Crédito na segunda estrofe de sua música” Brasil”!

Para quem não se recorda ou não conhece a qual música nos referimos, segue abaixo o trecho:
“Não me ofereceram nem um cigarro
Fiquei na porta
Estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito
É uma navalha”
Uma navalha porque nas mãos de quem sabe fazer bom uso dela, um cabelereiro por exemplo, pode resultar em um corte de cabelo bem-feito e duradouro. Mas, se entregue nas mãos de quem não consegue manejá-la bem, como por exemplo, uma criança, os resultados podem e, certamente, serão desastrosos.
Sob um ponto de vista amplo o cartão de crédito é uma ferramenta muito eficiente. Contudo, é importante conseguirmos fazer do cartão de crédito um aliado e não um inimigo.
Ele oferece, sim, muitos benefícios!
Dentre eles está a possibilidade de concentrar o pagamento de todos os boletos em uma única data. O risco de esquecer de pagar alguma conta é bem menor.
Outro benefício é que dependendo do programa de recompensa do cartão que você utiliza você pode ter acesso bons produtos e passagens aéreas. Além disso, muitos cartões oferecem hoje um bom percentual de “cashback” que é uma forma através da qual as administradoras de cartão recompensam os usuários que podem receber de volta uma parte do valor da compra, na forma de bônus, crédito para a próxima compra e até mesmo aproveitar para pagar as compras parceladas sem juros.
Uma outra forma que os usuários podem se beneficiar do cartão de crédito é parcelando sua compra sem juros e usando este valor para aplicar numa Renda Fixa e aproveitar os juros pagos por este tipo de investimento.
E quando ele se torna um inimigo?
A partir do momento que você não paga o total da fatura e entra no efeito de juros sobre juros, correndo o sério risco de não conseguir sair dessa dívida. Estamos falando do famigerado crédito rotativo. Esta é, sem dúvida, a maior armadilha que o cartão de crédito pode oferecer porque a taxa do crédito rotativo do cartão está entre as taxas mais caras do mundo. Não pagou o total da fatura vem o famoso efeito” bola de neve”, ou seja, a dívida cresce rápido demais. Mesmo que você decida parcelar o pagamento, inevitavelmente vai acabar pagando juros elevados de qualquer forma.
E você sabe quanto é o juro do cartão de crédito ao ano?
Abaixo o demonstrativo do Banco Central sobre os juros cobrados pelos Bancos considerados maiores emissores de Cartões de Crédito no mercado financeiro.

Fonte: Banco Central do Brasil
Já existe um projeto de lei (PL) aprovado pela Câmara dos Deputados que limita os juros do rotativo do cartão de crédito.
A proposta prevê um limite de 100% para o crédito rotativo caso o setor não apresente uma sugestão que reduza a taxa, que hoje é uma das maiores do mundo, se não a maior.
Em exemplo prático, no caso de um limite de 100%, suponha que uma pessoa tenha uma dívida de R$ 1 mil no cartão de crédito. O banco só poderá aplicar no máximo outros R$ 1 mil de juros e encargos financeiros com a nova proposta. Neste caso, o valor total da dívida nunca poderia superar R$ 2 mil.
Mas como este é um assunto ainda não definido, vamos partir para a parte prática.
Para quem ainda não encontrou um equilíbrio na utilização do cartão de crédito, segue algumas dicas para melhorar a forma de usá-lo.
Categorizar as despesas do cartão
Se você é daqueles que somam o valor final da fatura do cartão, sem descriminar, saiba que este não é o melhor caminho. Importante dividir por tipos de gastos porque assim sabemos quanto que gastamos com despesas supérfluas e obrigatórias.
Se precisar fazer algum corte, fica mais claro para você identificar quais itens estão pesando no orçamento. Lembrando que:
Supérfluos – não são primordiais para sobrevivência
Não essenciais relacionados a mercado, transporte e farmácia
Obrigatórios – despesas recorrentes como aluguel, água e luz
Os gastos com o cartão de crédito devem ser adicionados ao orçamento financeiro do mês seguinte que é quando o dinheiro da conta será realmente usado para pagar a fatura.
Definir valores máximos
Importante definir um valor máximo para gastar em cada categoria como farmácia, supermercado, transporte e lazer. Mais importante que definir o valor é acompanhar e controlar as despesas do cartão. O ideal é que uma vez por semana você acompanhe pra saber se o que gastou até aquela semana está dentro do planejado. Se já ultrapassou o planejado é hora de segurar um pouco os gastos das próximas semanas.
Para garantir se manter dentro os valores máximos estabelecidos é ideal que você tenha um valor teto para o total da sua fatura em mente e acompanhar sempre se este valor já foi atingido. Uma forma de ajudar a se manter neste propósito é não ter um limite de crédito muito alto. Procure definir um valor máximo para o limite que seja condizente com o valor que poderá ser gasto no mês.
Some compras parceladas às dívidas já existentes
Sempre que for realizar uma compra parcelada, o ideal é analisar antes da compra o quanto que essa nova compra (dívida) irá comprometer seu orçamento futuro. Se vai parcelar em 6 vezes você deve ter em mente que é uma obrigação financeira que irá comprometer seu salário por 6 meses. E não se esqueça de somar essa nova parcela às já existentes. Por exemplo, se você tem uma renda mensal de R$ 5.000, e vai pagar R$ 100 de parcela após a compra de um celular, comprometerá 2% do salário. Caso você já tenha 25% da sua renda (R$ 1.250,00) comprometida com outras prestações (como imóvel e automóvel por exemplo), a nova compra irá elevar o seu índice de endividamento para 27% (R$ 1.350,00). Quando falamos de planejamento financeiro, obrigações parceladas acima de 30% de sua renda mensal já comprometerão a capacidade de se alimentar, se vestir e se locomover. É um risco de ruína financeira.
Estabeleça uma rotina de controle
É fundamental estabelecer uma rotina para incluir os gastos em uma planilha financeira ou em outra ferramenta que ajude a controlar as despesas. A maior parte das pessoas não tem tempo suficiente para inserir diariamente os gastos em uma planilha. Se você está entre essas pessoas, recomendamos que se programe um dia da semana para lançar suas despesas e garantir que você não irá perder o controle destas despesas. Isso faz uma grande diferença no processo de organização financeira. As lojas, hoje, oferecem muitas facilidades para compras parceladas em muitas vezes sem juros e o apelo para que gastemos cada vez mais é imenso, por isso, o ideal é manter um único cartão para que você possa tornar mais fácil essa rotina de controle e só assumir o número de parcelas que cabem no seu bolso.
O que deve estar muito claro, embora não seja isso que aconteça na maioria das vezes, é que você jamais deve usar o cartão se não tiver dinheiro. Acredite, muitas pessoas usam a opção de parcelamento ou pagamento no vencimento porque querem comprar algo que não tem condição de pagar. Essas pessoas enxergam o cartão de crédito como uma extensão da sua conta bancária. Nem precisaria dizer, mas vamos lá, totalmente errado!
Se você quiser comprar alguma coisa, certifique-se: Você tem como pagar por ela?
Não é recomendado para aquelas pessoas que não possuem disciplina. O segredo para o bom uso do cartão e não cair numa armadilha é ter um bom planejamento, sem planejamento corre-se o risco de apenas o que resta ser rezar pra que a fatura não venha muito alta no final do mês. Mantenha sempre em mente que para que isso não aconteça você precisa e deve ter um bom planejamento financeiro.
Para isso, faça as contas!!!