A Estrada da Noite e o perigo de se comprar um fantasma
Cantora britânica de rock Brocarde, de 38 anos, disse que se casou com um fantasma numa cerimônia secreta numa capela amaldiçoada
Fui surpreendido, nesta semana, com uma notícia veiculada no UOL. A cantora britânica de rock Brocarde, de 38 anos, disse que se casou com um fantasma numa cerimônia secreta numa capela amaldiçoada. Só que o desencarnado acabou se mostrando uma companhia nociva – incrível ela ter descoberto isso só depois de ter se casado, né – incitando a moça a ter pensamentos sombrios profundos.

E quando ela procurou um especialista no além-túmulo para se aconselhar, Edward, o fantasma, passou a atacá-la com um choro de bebê incessante. A relação dura apenas cinco meses e ela implora por um exorcismo ou procedimento semelhante que faça o divórcio sobrenatural.
Essa notícia lembrou-me na hora de um de meus livros de terror favoritos: A Estrada da Noite (Heart-shaped box, 2007). É o romance de estreia de Joe Hill, nada mais nada menos que o filho do mestre da literatura de horror, Stephen King.
Mas ao contrário de outros filhos de famosos que decidem seguir a área de atuação dos pais, Hill se mostrou muito talentoso desde o início. Promessa que foi consagrada com outras obras de sucesso como O Pacto (adaptado ao cinema com o Harry Potter, Daniel Radcliffe), Nos4A2 (que, apesar do nome, Nosferatu, nada tem a ver com aquele famoso vampiro do cinema de 1922, mas também bem-sucedido a ponto de ganhar uma série televisiva exibida no Brasil pela Prime Video) e uma série de contos premiadas. Inclusive um deles fez enorme sucesso nas telonas no ano passado: O Telefone Preto.
Em A Estrada da Noite, Hill nos apresenta a Judas Coyne que é… adivinhem… cantor de rock. Brocarde, Brocarde, antes de ter se casado com um fantasma, você deveria ter lido esse livro….
Jude, o apelido do personagem principal, é um metaleiro super-famoso pelas músicas e pela excentricidade. Ele adora colecionar itens macabros. Certo dia seu assistente vê, na internet, um leilão virtual de um fantasma. Na verdade, a família está vendendo um paletó que, asseguram, vêm com o espírito do antigo dono.
O metaleiro arremata o item e o recebe, em casa, numa caixa em formato de coração (daí a justificativa para o nome original da obra, em inglês). Não demora muito pro antigo usuário da vestimenta aparecer para assombrar a vida de Jude.
Pensamentos suicidas começam a surgir na mente do roqueiro. E alguns fatos envolvem também a atual namorada dele. Aliás, Jude é um tremendo mulherengo que descarta as mulheres como troca de roupa para os shows. É tão gritante seu machismo que não chama as mulheres nem pelo nome, mas sim, pelo estado da confederação onde as conheceu. É como se namorasse uma mulher em Campo Grande e a chamasse de Mato Grosso do Sul e outra em Cuiabá apelidada de Mato Grosso.
A presença maligna vai resgatar outros fantasmas da vida dele, como o pai, extremamente violento e por quem Jude nutre um ódio mortal.
Aos trancos e barrancos — e muitos sustos – ele vai descobrir que a compra do terno não foi um acaso. Algo em seu passado liga o fantasma a um desejo louco de destruir a vida de Jude por vingança.
Livro com leitura fácil. Hill tem uma escrita muito visual. É possível, com clareza, visualizar os personagens, os cenários e vivenciar toda a atmosfera de terror que envolve a situação. Além do que, por ser mais antigo, o livro pode ser encontrado em sebos com preços bem atraentes. Numa rápida pesquisa, achei cópias entre R$ 9,40 e R$ 12.
Fica a dica e fiquem tranquilos. O fantasma não vem com o livro, não. Pelo menos, o que eu li. Se bem que o doei tempos atrás. Só falta ele ter ido parar na Inglaterra, nas mãos de uma cantora de rock casada recentemente.