A Lei dos Mortos

Em maio do ano passado, numa sexta-feira 13, publiquei meu segundo livro: a Lei dos Mortos, pela Life Editora, que conta a história de uma vingança sobrenatural

Em maio do ano passado, numa sexta-feira 13, publiquei meu segundo livro. A Lei dos Mortos, pela Life Editora. Ele conta a história de uma vingança sobrenatural. Depois que dois jovens são brutalmente assassinados, precisam se adaptar à passagem para outra vida. No Limbo, Fernando descobre uma liga de espíritos inconformados com o perdão divino. Também vítimas de violência, eles buscam punir os agressores. A partir de hoje, vou apresentar, aqui, os primeiros capítulos. Eles mostram o cenário principal dessa história, uma casa assombrada pelo mal. Espero que gostem.

A Lei dos Mortos – livro de Alex Mendes (Foto: Reprodução/Instagram)
A Lei dos Mortos – livro de Alex Mendes (Foto: Reprodução/Instagram)

Capítulo 1 – O programa

O gordinho suava muito. E toda vez que passava o lenço pelo rosto, dava mais trabalho à maquiadora da equipe de televisão. Os retoques duravam pouco frente ao calor de quase 40 graus dentro da casa.

— Eu preciso emagrecer… – pensava em silêncio o rechonchudo enquanto uma grande esponja afofava seu rosto redondo para espalhar o pó compacto que encobria a oleosidade da pele.

Mas emagrecer, para ele, era um risco. Ele sabia, através de pesquisas encomendadas pelo canal, que sua aparência roliça ajudava — e muito — a mantê-lo no alto da guerra pela audiência. As donas de casa, seu principal público-alvo, viam nele os ursinhos de pelúcia que embalaram tantos sonhos de infância não concretizados. Eram pobres, semialfabetizadas, provavelmente infelizes no casamento, mas que tinham televisão em casa. E deixavam-na sintonizada bem no programa do apresentador que agora precisava trocar a camisa para esconder as “pizzas” de suor que apareciam em suas axilas.

— Meu Deus, não tinha outra casa pra gente gravar hoje? Isto está um inferno! – berrava em direção à produtora. Uma moça morena de cabelos presos, usando camisa branca lisa e uma bermuda verde musgo até o meio das coxas. Uma sandália com duas tiras horizontais no peito do pé e um celular faz tudo que não largava os dedos da garota completavam o visual.

— Você me pediu algo assustador de verdade, Ronaldo. E esta casa me dá arrepios…

— Arrepio a gente sente no frio e isto aqui está parecendo o deserto do Saara. Não tem um ventilador aí?

— Gentem… – Bruna, a produtora de voz metalizada exagerava no “m” – … procurem lá embaixo. Vejam se tem algum ventilador e tragam aqui pra cima, rápido.

Duas outras pessoas da equipe, um iluminador e um operador de áudio, largaram seus equipamentos e desceram a escada que ligava o sótão, onde estavam, até o restante da casa.

— Faz quarenta minutos que estamos aqui e nem um barulhinho estranho. Nem as portas rangem nesta droga de casa. Quem escolheu esta merda? — Ronaldo mostrava quem realmente era longe das câmeras.

O nome verdadeiro era Gleydestone. Algo impronunciável para o público que o idolatrava. Virou Ronaldo ainda na rádio onde começara lendo notícias policiais. Até o sobrenome era inventado. Gleydestone Rodinaldo da Silva virou, então, Ronaldo Fera. E assim ele era com o microfone nas mãos. Desafiava bandidos, enfrentava políticos, defendia a população. Tinha credibilidade, mas não dinheiro.

Até que mudou de veículo.

Um antigo canal de televisão ganhou donos novos. Cheios de ganância. E, a peso de ouro, faziam, de sucessos consagrados de outras emissoras e veículos, suas principais atrações. Ronaldo Fera foi um dos primeiros. Um contrato de cinco anos com rendimentos trinta vezes maiores que os da rádio. Nem se despediu. No dia seguinte, a voz grossa e potente se unia ao corpanzil nos televisores.

Começou com um programa policial. O mesmo do rádio. Mas ninguém o levava muito a sério. A aparência de bichinho de estimação transbordava meiguice. Não adiantava mais falar alto como no antigo veículo. Os olhos de “pimpão” contradiziam o nome artístico. A fera não amedrontava ninguém.

Para não perder o investimento na cara atração, os executivos da emissora tiveram a ideia de transformá-lo num caçador do sobrenatural.

E Ronaldo virou uma espécie de guia de turismo dos lugares mais assombrados do país. Se alguém dizia ter visto um fantasma na “Cochinchina”, o bonachão ia com a equipe para contar a história. Claro que muitas delas – para não dizer todas – não passavam de lendas, inventadas por pessoas que queriam aparecer na televisão.

Nada diferente do que fazia Ronaldo. Afinal, várias das histórias eram criadas pela própria produção do programa. Figurantes dentro de armários batiam portas. Alavancas manufaturadas nas oficinas da televisão arremessavam pratos, aparelhos de som reproduziam ruídos estranhos. E sombras de produtores assustaram muita gente antes de dormir.

E a imagem do apresentador casou-se perfeitamente com o programa. Afinal, nada melhor para enfrentar fantasmas que um grande urso de pelúcia. Todos queriam se proteger embaixo dos enormes braços do herói. Era cultural. Vinha da infância. Um sentimento de proteção. Era isso o que os telespectadores viam em Ronaldo. Era isso o que o público queria de Ronaldo.

O programa “É hora de perder o sono!” estava na grade das quartas-feiras, às dez da noite. Era o maior rival do futebol, exibido no canal concorrente, e um terror para os maridos de lares com apenas uma televisão. Muitas vezes, os coitados eram espantados pelas esposas para o boteco mais próximo. Ronaldo era íntimo do medidor de audiência. Não que superasse a atração esportiva. Mas muitas vezes garantia o empate e deixava a prorrogação para os programas que vinham em seguida.

— Achei dois ventiladores. Mas eles são barulhentos. Vai vazar o áudio. O que podemos fazer é deixá-los longe só pra tentar refrescar um pouco mais até a hora de entrarmos ao vivo. Depois, teremos mesmo de desligar. Não dá pra atenuar isso, não. – disse o operador de áudio com as máquinas de vento nas mãos.

— Faça qualquer coisa. Só faça logo que não vejo a hora de ir pra casa. Tem uma banheira com água fresquinha cheia de espuma me esperando. – resmungou Ronaldo, enquanto passava, mais uma vez, o lenço pelo rosto.

Além de quente, o sótão não era tão alto quanto o teto de um quarto comum. Em alguns trechos, visitantes com mais de um metro e meio de altura tinham de abaixar as cabeças para não serem atingidos por vigas. Havia forro no local. Era de madeira, pintado de branco. A iluminação era boa. Uma luminária com duas lâmpadas incandescentes brancas garantia que a luz corresse pelo teto até boa parte do cômodo. Quatro arandelas de pequeno porte garantiam visão total nos cantos.

O local foi originalmente pensado como um depósito de bugigangas, mas alguma das famílias moradoras transformou o espaço num quarto de visitas. O chão foi coberto com um carpete de madeira, onde havia um tapete ovalado em cima. A cama era de casal. Dois dos pés ficavam sobre o tapete. Do lado oposto, a cabeceira morria na parede, embaixo de um quadro com uma estranha forma. Como se fosse um fogo rodando num espelho em branco. Arte moderna. Nome que se dá a aquilo que não entendemos. Ali era um ponto em que os mais altos não precisavam se abaixar. O telhado, em forma de cone, permitia até pular na cama sem rachar a cabeça na viga. Nas laterais do cômodo, aí, sim, o cuidado tinha de ser enorme.

De frente aos pés da cama, a uns seis metros de distância, havia um armário de madeira. Com dois metros de altura, tinha duas portas e nenhuma roupa dentro. Era esverdeado com pátina. Deixava a impressão de algo velho, mas que tinha, propositadamente, ganhado essa aparência. Do lado direito dele, uma portinhola, pequena e quadrada que saía do rodapé em direção ao teto. Tinha a dimensão exata para passagem de uma pessoa agachada. Ronaldo não quis saber onde ela daria, mas, contrariado por um técnico curioso que enfiou a cabeça dentro do cômodo achando que pudesse encontrar mais um cenário para o programa, o apresentador descobriu que era o acesso a uma espécie de continuidade do sótão. Um outro cômodo, separado por uma parede que tentava isolar o som e a umidade da caixa d´água instalada ali, regada por um monte de canos barulhentos. Um lugar assustador, sem dúvida. Mas inútil para a equipe. Ronaldo não passaria nunca por aquela entradinha sem correr o risco de entalar.

Quatro janelões de vidro instalados nas laterais – dois de cada lado — ajudavam a evitar o mofo e a esquentar o local. Havia cortinas nelas.

— Como alguém poderia dormir num lugar desses, meu Deus??!! – perguntou-se Ronaldo ao perceber que o isolamento acústico não era perfeito. Era possível, em total silêncio, perceber o som da água subindo e descendo pelos canos que abasteciam a rede hidráulica da casa.

A portinhola que desembocava na escada de acesso ao sótão ficava a uns dois metros da parede onde estava o compartimento recém-descoberto. Se alguém traçasse uma linha divisória, o acesso estaria mais para o meio que para o canto. Do lado esquerdo de quem está na cama, mas longe o suficiente para evitar a queda acidental de um hóspede sonolento. A tampa do alçapão era puxada para baixo por quem estivesse no corredor de acesso aos demais quartos no andar inferior. Um leve toque numa cordinha e uma escada retrátil estendia seus degraus para quem quisesse subir. Havia um dispositivo que fazia o contrário quando o hóspede preferisse privacidade. Uma alavanca levantava o dispositivo e o baixava quando fosse a hora de descer.

Ronaldo estava, agora, sentado na cama. Os ventiladores começavam a soprar tranquilidade pelo quarto. A irritação se dissolvia junto com o suor do gordo.

Este era um programa especial para ele. Cinco anos de casa. Já havia quatro, segurava as pontas da atração mais assustadora da televisão brasileira. O aniversário tinha de ser inesquecível. Diferente de todos, por isso, seria transmitido ao vivo.

— Ronaldo, acho melhor você usar uma camiseta branca por baixo desta que está vestindo. Porque, quando ligarmos as luzes, isto vai ficar ainda mais quente e você não terá como trocar a camisa com o programa em andamento – a produtora sugeria um truque comum para preservar a imagem dos que aparecem na tevê. A camiseta branca evita que o suor passe para o tecido de cima, retendo a umidade e evitando as manchas desagradáveis.

— Quer ensinar o padre nosso ao vigário, garota? Claro que sei disso. Só que eu hoje, simplesmente, esqueci. – Ronaldo sempre deixava a vestimenta no camarim da TV, mas tinha ido direto à casa assombrada, sem passar no local de trabalho — Não trouxe nenhuma camisa branca comigo. – respondeu ele, de forma ríspida.

— E se a gente colar uns guardanapos de papel nas suas axilas? Isto pode funcionar. – a funcionária sugeriu.

E funcionou. Três folhas de papel toalha presas com fita crepe fizeram parecer que Ronaldo usava o desodorante mais potente do mundo.

Ainda faltavam quatro horas para o programa, mas Ronaldo não teria tempo de tomar banho ou deixar a casa. Tinham de ensaiar. A exibição ao vivo é muito mais trabalhosa que a reportagem gravada. Na segunda opção é possível rodar umas tomadas, descansar, refazer o que não ficou bom. Ao vivo, vale o que é feito na hora, exibido em milhares de lares ao mesmo tempo.

Por isso, todo o trajeto foi desenhado com antecedência. A posição dos cinegrafistas, dos homens que carregariam o boom — o microfone que fica acima das cabeças do apresentador e dos entrevistados — além do filtro de iluminação correto para cada cômodo.

O ambiente não podia estar totalmente claro. Era preciso a penumbra para dar um ar de medo, mas uma penumbra que permitisse à audiência ver o que Ronaldo mostrava.

O programa tinha uma hora de duração, com três intervalos. Todos os espaços tinham sido comercializados. E a expectativa era de que o futebol, desta vez, fosse assombrado pelo rival.

O trabalho de marketing da emissora foi brilhante. Muitos blogs falaram sobre a corajosa visita à casa amaldiçoada mais famosa da cidade.

Não que ali tivesse havido algum fato assombrado, algum crime. Se foi derramado sangue naquele terreno, com certeza, fora de forma acidental, com um caco de vidro aqui e outro ali. Ou por um descuido com as vigas baixas nas laterais do sótão. Mas a residência, bela e ampla, não conseguia ser habitada por longos períodos. Desde sua construção, quinze anos atrás, apenas três famílias passaram por ali. Os que construíram o imóvel e dois compradores. Ambos deixaram a casa. E uma série de boatos sobre barulhos e eventos estranhos que tiravam o sono dos habitantes nasceu.

Nunca se confirmaram. A imprensa tentou falar com os proprietários quando as histórias surgiram, mas não conseguiram uma palavra sequer sobre o caso. Medo de desvalorização do imóvel? De cair no ridículo? Teorias se multiplicavam nos dois anos de luta das imobiliárias para vender ou alugar a residência térrea de três quartos, sendo duas suítes, duas salas, copa, cozinha, banheiro social e de empregada, quartinho dos fundos, quintal, duas vagas de garagem e um sótão.

— Ronaldo, a mulher chegou. – Bruna fez o comunicado.

— Ah! Que bom. Até que enfim alguma coisa pra passar o tempo. Cadê ela?

— Está lá embaixo. Você pode descer e encontrá-la na cozinha. Enquanto isso, terminamos de preparar o cenário aqui do sótão para o grand finale.

— Tá. Não me fale nada. Deixa como surpresa porque vai ser difícil fazer cara de assustado nesta casa em que nada acontece. Eu vou descer pra encontrar a velha maluca.

A passagem do sótão não era tão larga e o apresentador teve de encolher a barriga para chegar à escada. Antes de desaparecer por completo, lembrou-se de algo importante.

— Qual é mesmo o nome dela?

— Dorotéia. Dona Dorotéia.

— Devia ser Doroveia. Hahahaha. – todos riram apenas porque ele era o chefe.

Ronaldo pegou um espelho de maquiagem que carregava no bolso e o abriu. Checou o rosto, olhou dentro do nariz e abriu um sorriso falso cheio de dentes brancos. Com a palma da mão, checou o hálito. Refrescante como sempre. Entrevistar alguém com bafo era algo inadmissível para ele. Faz um mal tremendo para a reputação.

— Dona Dorotéia. Que prazer vê-la!

— Ronaldo! – a velha se derreteu – Nossa! Você é muito mais bonito pessoalmente.

— Minha mãe sempre fala isso. Vem cá, me dê um abraço.

Aconteceu. Apertado. Cara de satisfação de um lado. De tédio do outro.

— Agora… – ele fez cara de sério — …conte-me tudo sobre os fantasmas desta casa.

A mulher benzeu-se com o nome da cruz.

— Credo. Jesus Cristo. Não gosto nem de lembrar!

— Fica tranquila. Eu vou protegê-la. Pode confiar em mim. A senhora já morava na casa ao lado antes mesmo desta aqui ser construída, então, ninguém melhor para me contar o que acontece nesta que pode ser a morada do mal. Mas só até hoje. – ele deu uma piscadinha que a derreteu.

A mulher contou enquanto tomavam café.

Chá para Ronaldo.

Café deixa os dentes escuros e o hálito ruim. Hortelã acalma e perfuma a cavidade bucal. Foi servido gelado.

Dorotéia contou que, da casa dela, ouvia barulhos estranhos na residência vizinha. Eram passos de pessoas correndo, mesmo quando não havia ninguém no local. Havia rangidos também. Como se os canos quisessem falar alguma coisa. E os gritos.

— Gritos!? – ele pensou na audiência.

— Vinham de repente, congelando a minha espinha.

— Boa! – ele pensou. — Esta frase teria de ser dita ao vivo e fez uma nota mental para se lembrar mais tarde.

— E o mais estranho… – continuou a vizinha — …mesmo sem habitantes há tanto tempo, a casa nunca foi invadida por ladrões ou curiosos. Isto só pode significar uma coisa… – e benzeu-se de novo – … o mal vive mesmo aqui! – completou com olhos arregalados que fizeram Ronaldo segurar o riso de tão clichê.

O apresentador se conteve e entrou na onda. Abaixou o tronco do corpo para perto dela, caprichou no olhar de ursinho carinhoso e perguntou quase com um sussurro.

— A senhora já viu algum espectro por aqui?

A mulher afastou-se um pouco. E tomou fôlego. Voltou a se aproximar do apresentador no mesmo tom de voz que ele usara.

— Uma vez… – disse ela como se contasse um segredo – …eu vi um rosto na janela do sótão.

Ronaldo exagerou na careta de “Meu Deus!”. Fez uma imitação daquele emoji de susto com olhos arregalados, boca aberta e as duas mãos espalmadas nas laterais do rosto.

Ela se empolgou com a reação do caçador do sobrenatural.

— Parecia olhar direto para mim. E … veja… – mostrou o braço arrepiado – … ele… ele sorriu pra mim, tenho certeza.

Ronaldo é quem sorria. Por dentro. As histórias da mulher segurariam o interesse do público. E ela mesma já parecia uma assombração. Muito magra, com a pele judiada, cheia de rugas. Um cabelo parcialmente tingido. Fios loiros dividiam a cabeça da idosa com uma porção quase igual de fios brancos. Olhos azuis grandes e levemente saltados para a frente. Se Ronaldo encontrasse com a mulher, sem querer, ali na casa, com certeza acharia que tinha dado de cara com um fantasma de verdade pela primeira vez na carreira.

— Nossa! – ele fingiu espanto. E depois, compreensão. Passou a mão pelo braço da vizinha, baixando os pelos levemente em pé — Não se preocupe. – e estufou o peito — Nenhum fantasma se atreve a enfrentar o Fera!

— Ah! – Soltou um gritinho entusiasmado a mulher batendo palmas – Eu adoro quando você fala isto!

Era o bordão do apresentador. Ele dizia no início e no final do programa. Muitos o imitavam nas ruas. Era uma daquelas frases marcantes da televisão.

— Posso… eh… posso te pedir uma coisa, Ronaldo?

— Claro, dona Dorotéia. O que a senhora quiser.

— Não precisa me chamar de dona.

— Oh! Sim, é força da profissão. Dorotéia, pode pedir o que quiser.

— Posso apertar as tuas bochechas? São tão fofinhas….

Este era quase outro bordão. Um que Ronaldo odiava. Sempre que encontrava um fã, o pedido vinha. Era inevitável para quem via o ursinho de pelúcia humanizado. Era insuportável para o apresentador. Desde criança, os lados do rosto de Gleydestone eram alvos de beliscões. Dos pais, dos tios, dos avós, até a irmã mais velha não o poupava. Ser fofinho irritava demais o menino. Ele queria ser uma fera. Uma que as pessoas tivessem medo de enfrentar, de tocar, até de chegar perto.

— Claro que sim. Com as duas mãos ao mesmo tempo – ele, falsamente, fingia um sorriso de satisfação e um olhar de urso carente.

— Ai, é tão gostoso. – ela mexia as mãos para baixo e para cima amassando as bochechas do apresentador — Menininho lindo!

O ato carinhoso foi interrompido por Bruna, a produtora.

— Ronaldo, o jornal quer uma entrada ao vivo em vinte minutos para chamar o programa. Vamos nos preparar?

Ele nem precisou responder. Já estava preparado. Tudo ali já estava preparado. Uma farsa que começara 365 dias antes.


Na semana que vem, acompanhe os capítulos 2 e 3. Até lá.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toda Sexta é 13, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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