Os fenômenos mediúnicos de Hydesville
Os fenômenos de Hydesville estão relatados no livro “A História do Espiritismo’, escrito por Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes
Imagine a situação:
Você é Kate, tem onze anos de idade e vai morar com seus pais e sua irmã numa pequena cidade no estado de Nova Iorque, nos Estados Unidos.

A casa que consegue adquirir, depois de deixar o Canadá, é uma cabana simples.
A tranquilidade do lugar, no entanto, é só aparente.
A cabana emite sons estranhos e assustadores. Arranhões nas paredes, estalos no madeiramento.
Todos os dias.
Barulhos tão estranhos que ninguém mais consegue dormir.
Até porque as camas começam a se mexer sozinhas.
Cansada dos barulhos, do medo e do incômodo que isso causa à família, Kate resolve falar com o causador dos sons estranhos.
¬— Senhor Pé-rachado, faça o que eu faço, batendo palmas.
Sons de pancadas são ouvidos no mesmo número de movimentos feitos pela menina.
Margarerth, a irmã três anos mais velha, excitada com a resposta, vai além da proposta da irmã.
— Agora faça exatamente como eu. Conte um, dois, três, quatro.
Quatro pancadas vêm em seguida. Pausadamente.
Uma… duas… três… quatro.
Outra pergunta das meninas:
— É um espírito? Se for, dê duas batidas.
Uma… duas.
— Se for um espírito assassinado, dê duas batidas.
Uma… duas.
O interrogatório continua numa tensão crescente.
— Foi assassinado nesta casa?
Uma… duas.
É de arrepiar os pelos da nuca, não? Parece roteiro de um filme de terror, né? Subgênero: casas mal-assombradas.
Mas, na verdade, isso aconteceu. Em 31 de março de 1848, no lar da família Fox. Um imóvel que já tinha perdido outras famílias para o medo.
O caso, que ficou conhecido como os fenômenos de Hydesville, é um dos marcos do surgimento da doutrina espírita codificada pelo professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, depois conhecido como Allan Kardec.
Não foi o primeiro relato de comunicação com espíritos da história.
Mas acabou se tornando um dos mais icônicos pela repercussão.
As meninas Margareth e Kate eram médiuns, pessoas que têm a capacidade de distinguir a frequência com que os desencarnados conseguem estabelecer contatos com os encarnados.
Imagine a coragem da menina.

Naquela época, não existia ainda a doutrina espírita. Tudo o que acontecia na seara de acontecimentos estranhos era atribuído a demônios ou fantasmas maus. Por sorte, o espírito tinha um plano, não uma artimanha.
Através da comunicação com o espírito, ele revelou que tinha sido um vendedor ambulante. Uma vez, de passagem por Hydesville, foi acolhido naquela casa com muita gentileza e hospitalidade pelo casal Bell.
No entanto, numa segunda passagem pelo imóvel, acabou morto pelo anfitrião que roubou seu dinheiro e seus pertences.
Chegaram a esse desfecho depois que um dos muitos curiosos presentes durante as manifestações teve a ideia de relacionar as letras do alfabeto de acordo com o número de batidas.
Por exemplo, a letra “a” era uma batida. A “b” duas e assim por diante.
Imagine a morosidade, a paciência da plateia e do próprio espírito.
Com essa nova forma de comunicação, ele se identificou como Charles Rosma.
Disse que foi assassinado com um golpe de faca no pescoço e foi sepultado duas vezes.
A primeira vez foi na adega da casa.
Mas o corpo não pôde ficar lá por muito tempo.
A cova não era funda o suficiente para encobrir a curiosidade da empregada da família Bell. Em depoimento, já com os fenômenos revelados, ela disse que um dia tropeçou no monte de terra mais alto e falou com os Bell sobre a possibilidade de algo errado na adega.
Depois disso, ela se calou e não viu mais a saliência.
Após o relato dela, os investigadores escavaram a adega, mas nada encontraram.
Isso porque o vendedor tinha sido removido pelo assassino. O novo local foi descoberto anos mais tarde.
Encontrei duas versões sobre a forma como o esqueleto foi encontrado.
A primeira diz que teria sido em 1904, quando a cabana, abandonada, servia de palco para brincadeiras de alunos de uma escola próxima. Em determinado momento, eles esbarraram num parede falsa que acabou desabando e revelando o esqueleto emparedado.
A outra é de 1916. A Lily Dale Assembly, maior Centro de Filosofia, Ciência e Religião do Espiritualismo do mundo, também no estado de Nova Iorque, fez um museu e adquiriu a cabana.
Na hora de fazer o transporte do imóvel, a falsa parede se desprendeu com a movimentação revelando a ossada. A cabana estava no local até 1955, quando acabou destruída num incêndio.
Hoje, em Lily Dale há um jardim de meditação e um obelisco para relembrar a história da família Fox.
Os fenômenos de Hydesville estão relatados no livro “A História do Espiritismo’, escrito por ninguém menos que sir Arthur Conan Doyle. Simplesmente o criador de Sherlock Holmes.
Mas ao contrário do gênio da investigação policial que nunca existiu de verdade, as comunicações das irmãs são atestadas por Doyle como verídicas.
E não só por ele.
As adolescentes foram levadas para o maior salão da cidade de Rochester, o Corinthian-Hall, um local onde eram debatidas as principais causas do estado, como a abolição da escravatura, para que se comunicassem com espíritos na frente de pessoas da sociedade e de cientistas.
Elas foram observadas de vários ângulos e em várias situações. Até mesmo nuas para ver se escondiam algo nas vestes.
Entre os pesquisadores, Willian Crookes.

Físico e químico britânico, foi consagrado sir pela rainha Vitória pelo seu trabalho em espectroscopia, o estudo da interação entre a radiação eletromagnética e a matéria.
Em 1888, as irmãs, com problemas de alcoolismo e financeiros, receberam 1.500 dólares para revelar, em uma entrevista a um veículo da imprensa, que fabricavam os ruídos e que tudo não passava de fraude.
No ano seguinte, se retrataram e voltaram a afirmar a veracidade dos eventos.
O que liga os fenômenos ao surgimento da doutrina espírita é o relato de Andrew Jackson Davies, um clarividente da época responsável por prever o surgimento da máquina de escrever e dos automóveis.
Dias antes da comunicação das meninas com Rosma, Davies disse ter sido atingido por uma grande rajada de vento. E em seguida, ouvido uma voz do além dizer-lhe que um novo trabalho da espiritualidade começaria no mundo.
Depois dos Estados Unidos, a França passou a presenciar fenômenos sobrenaturais. Eles ficaram conhecidos como Mesas Girantes.
Os espíritos, através de pancadas produzidas pelos pés das mesas, respondiam às perguntas das pessoas.
Novamente, a metodologia de relacionar o número de batidas às letras do alfabeto levaram a respostas precisas que elevaram a curiosidade sobre os fenômenos.
Foi aí que entrou Allan Kardec. Professor de matemática, ele foi convidado a assistir a algumas sessões das mesas girantes. Ele, próprio, cético, tinha a certeza que iria desmascarar o truque.
Com histórico de vários livros didáticos de aritmética publicados e com o respeito pela constante luta pelo aprimoramento do ensino público francês, o professor Rivail era também um entusiasta do magnetismo.
Foi o que o atraiu aos eventos das mesas.
Ele dizia que só acreditaria no fenômeno quando provassem que mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula (nome atribuído a quem entrava em transe). Para ele, tudo não passava de um conto para causar medo nas pessoas.
Em maio de 1855, foi levado por um amigo à casa da “sonâmbula” sra Roger. Lá estavam ouros respeitados homens da ciência. Foi a primeira vez que Rivail presenciou o fenômeno.
Ele, então, passou a estudar a comunicação entre os espíritos a partir do contato com outras “sonâmbulas” (médiuns).
A literatura espírita afirma que as manifestações fazem parte da continuidade dos planos de Deus.
A doutrina espírita seria o consolador prometido por Jesus Cristo.
Por meio de relatos de vários espíritos, colhidos em lugares diferentes, mas apresentando sempre a mesma coerência, o professor Rivail escreveu cinco livros que representam a codificação da doutrina espírita, revelando as relações do mundo material com o dos espíritos.
O nome dele não consta como autor porque Rivail não queria confundir o novo trabalho com os livros anteriores que já tinha publicado.
Foi sugerido, então, a ele, pelos espíritos, que usasse o nome de Allan Kardec, um sacerdote druida que fora uma das encarnações do professor.
Kardec, também, não é criador da doutrina. Ele apenas codificou, organizou os ensinamentos trazidos pelos espíritos superiores incumbidos de trazer a nova revelação à Terra.
Ele criou uma espécie de cesta com um lápis na ponta. Quando o médium colocava o dedo sobre a cesta, ela escrevia as palavras que recebia. Semelhante ao tabuleiro de Ouija que a gente tanto vê nos filmes.
Mais confiante, ele resolveu colocar o lápis diretamente nas mãos dos médios, surgindo a psicografia. Uma forma mais rápida de comunicação.
Em o Livro dos Espíritos, Kardec reúne as perguntas que fez aos desencarnados e as respostas que foram trazidas. Entre os ouvidos, o Espírito de Verdade, que muitos acreditam ser o próprio Jesus Cristo.
Em suma, a doutrina diz que os espíritos são eternos e criados por Deus num mesmo estágio. Bruto.
As encarnações, o contato com o corpo físico e suas necessidades, faz com que sejamos apurados com o tempo, com as experiências que vivenciamos.
Nosso planeta é um dos primeiros estágios, um mundo de expiações e provas, onde podemos reparar danos causados a nós e a outras pessoas, além de resistir às tentações que nos afastam do ensinamento maior de Deus: amarmos uns aos outros.
A cada reencarnação, evoluímos intelectual e moralmente.
Um trabalho que leva séculos, milênios até. Dependendo do quanto você se dedicar a evoluir.
Além de termos a missão de melhoramos nosso espírito, também precisamos ajudar o mundo que vivemos. Quem duvida que, com tantos avanços tecnológicos, não temos um planeta muito melhor hoje que o da família Fox em Hydesville no século XIX?
Estamos muito evoluídos intelectualmente, na inteligência.
Já moralmente…
Bom, teremos muitas reencarnações para aprender. Não?
E se ainda precisamos de alguém que venha de outro lugar para reforçar nosso papel na vida, vários estudos, desde Hydesville, são feitos para melhorar a comunicação entre os mundos físico e espiritual.
Aparelhos específicos vem sendo criados para isso.
Já há várias vozes gravadas.
E imagens também!
É a transcomunicação instrumental.
Thomas Edison, o cara que inventou a lâmpada trabalhava nisso em 1920.

Em 1959, o sueco Friedrich Jürgeson, captou vozes de espíritos enquanto gravava sons de pássaros em seu jardim. Virou estudioso do assunto e escreveu a obra “Telefone para o Além”, referência no tema.
Parece loucura?
Segundo depoimento do médium Chico Xavier, lá na década de 70, a tecnologia será essencial para a clareza dessa interação.
Isso porque os espíritos, até agora, sempre precisaram do intermédio de um ser humano para mandar suas mensagens.
E nossa raça, cheia de imperfeições, é um filtro duvidoso.
Um telefone com muitos ruídos.
Em 2028, completaremos 180 anos dos fenômenos de Hydesville.
Será que até lá conseguiremos as respostas que tanto queremos ouvir com a clareza de uma ligação via 5 ou 6 ou até 7G?
Você pode até não acreditar em reencarnação, não crer que Jesus na verdade, não é Deus, mas sim um espírito que também passou por várias vidas físicas até se tornar o ser mais evoluído com o qual o planeta Terra teve contato, o exemplo a ser seguido pelos humanos. Pode não acreditar que em vez do inferno, você “paga seus pecados” quando volta pra um planeta habitado com o mesmo nível de elevação moral que o teu não para ser punido, mas para ter uma segunda chance de fazer o certo.
Você pode achar que tudo isso é baboseira.
Mas tem de concordar que não dá para descartar a ideia.
De como seria perfeito conseguirmos contato sempre que quiséssemos com um pai, uma mãe, uma avó, um filho que se foi para o plano diferente do nosso tão cedo.
Para saber como estão, ouvir seus conselhos.
Matar a saudade.
Ter essa esperança, com certeza, é consolador.
Se é o prometido ou não, o tempo dirá.
E teremos muitas vidas para esperar.