Jovem indígena de MT cria moda Kamayurá e é sucesso nas redes sociais
Vestidos e conjuntos são feitos de forma artesanal com grafismo do seu povo
Retratar a história do seu povo. Esse é o objetivo da empreendedora Patrícia Kamayurá, de 36 anos, que cria vestidos com os grafismos Kamayurá, etnia a qual pertence e que é uma das populações do Parque Nacional do Xingu, situado no Norte de Mato Grosso. A influencer vende as peças pelas redes sociais – somente no Instagram, ela tem mais de 31 mil seguidores.
“É uma sabedoria passada de geração em geração. Minha família que mora no território me passou essa sabedoria e consigo transmitir para o meu público. E isso também é uma forma de manter a nossa cultura viva”, afirmou.

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Os vestidos e conjuntos de short e blusa têm preços que variam de R$ 250 a R$ 380. Eles são feitos com o linho, tecido sustentável, e pintados à mão por Patrícia.
Trajetória
Levar um ‘pedacinho’ da sua aldeia para as pessoas, por meio de suas peças, era um sonho de Patrícia desde que morava em Canarana, a 838 km de Cuiabá. Porém, ela só conseguiu concretizar em 2017, quando se mudou para Goiânia (GO), onde vive até hoje com o marido e os filhos.
“Esse sonho ficou adormecido por muitos anos, mas quando vim para Goiânia tive a oportunidade de ter acesso às maiores lojas de tecido do Centro-Oeste. E pensei: ‘agora vou começar o meu sonho que estava engavetado’. Em 2017 comecei a minha produção e quis trazer para as peças algo que realmente retratasse o meu povo”, lembrou.

A empreendedora afirma que o mundo digital foi fundamental para ela conseguisse comercializar suas peças durante a pandemia da covid-19. E avalia que, apesar da pandemia, as vendas cresceram muito nos últimos dois anos.
“Até brinco que a pandemia foi muito ruim para o negócio de muitas pessoas, mas o meu cresceu muito nesse período. Consegui produzir muito e vender muito. Meu público, a maior parte, é de apoiadores da causa indígena. São pessoas que se identificam com as peças, compram e usam”.
Bem ao próximo
A empreendedora contou que as pessoas que a seguem também contribuem para que ela apoie comunidades indígenas que passam por necessidades. Isso porque quando é informada sobre aldeias nessa situação, ela ‘corre’ para as redes sociais e pede apoio em vaquinhas virtuais para levar alimento, kits de higiene e roupas.
“Sempre que alguém fala: ‘Patrícia, esse lugar está precisando’, a gente tenta focar nesses lugares. Conseguimos ajudar muitas famílias que moram em Canarana com cestas básicas, para que eles conseguissem se manter durante o auge da pandemia”, lembrou.
Ela também conta com orgulho que o último trabalho social que desenvolveu, em dezembro de 2021, realizou com recursos próprios, graças às vendas das peças..

Fortalecimento das mulheres indígenas
Segundo Patrícia, ela contribui para o escoamento de produtos feitos por mulheres indígenas. Ela relatou que recebe peças de sua comunidade, mas também de outros povos, como os Karajá, da Ilha do Bananal (TO).
“Às vezes, as pessoas acham que as mulheres que estão no território não precisam ter acesso ao dinheiro, mas precisam. E isso as fortalece financeiramente. Muitas não têm acesso às mídias sociais e, eu as auxiliando, acabam não precisando de atravessadores”.
A jovem recebe diretamente da Aldeia Kamayurá, do Parque Nacional do Xingu, colares, pulseiras e cerâmicas. Já das mulheres Karajá são enviadas bonecas e cestarias. Patrícia também ressaltou que todo o valor da venda é repassado para elas.