A inteligência natural é o verdadeiro problema da música

Enquanto alguns artistas reclamam da utilização da inteligência artificial, a inteligência humana segue cada vez mais causando prejuízos para o mercado fonográfico.

Existem 2 tipos de pessoas quando surge uma coisa nova: 

  1. A que pensa em como essa nova coisa pode atrapalhar 
  1. A que pensa em como essa nova coisa pode ajudar 

Temos pessoas mal-intencionadas nas duas categorias. Temos pessoas bem-intencionadas nas duas categorias.  

Na primeira categoria, (das pessoas que pensam em como a nova coisa pode atrapalhar) tem gente realmente preocupada com o futuro da humanidade e em como isso pode impactar negativamente a nossa existência. Tipo os que acham que a inteligência artificial vai nos dominar.

Mas também temos pessoas que querem frear o progresso porque perderão o benefício que tem com a coisa antiga. Por exemplo, o taxista que tenta impedir o motorista por aplicativo de trabalhar.

O fato é que ninguém vai ser capaz de impedir algum tipo de progresso se a humanidade conseguir se beneficiar com a novidade. Ninguém segurou o transporte por aplicativo e ninguém vai segurar o uso da inteligência artificial.

Apesar dos pessimistas e dos otimistas, o equilíbrio natural do povo da terra vai nos permitir seguir em frente, calculando os riscos.  

Enquanto grandes gravadoras se preocupam com brincadeiras nas redes sociais que mostram Michael Jackson cantando “Caneta Azul” através de inteligência artificial, existem quadrilhas roubando músicas de compositores anônimos e faturando mais de 300 mil reais nas plataformas digitais.  

Criminosos captam composições de compositores que estão na expectativa de venderem as músicas inéditas para artistas, criam perfis de cantores falsos em plataformas como o Spotfy e usam essa “guia” enviada pelo compositor como se fosse o produto final e faturam alto com os “plays”.

Roubam as composições, criam um artista falso e disponibilizam a música nas plataformas.  

Eu recebo semanalmente mensagens no meu whatsapp comercial (que é vinculado as minhas redes sociais), com a seguinte pergunta: “Olá, tudo bem? Você compõe música?”  

Golpes compositores
Inteligência natural em ação

Eles dizem que são de uma gravadora e que vão avaliar sua música pra ver a possibilidade de ser usada em alguma produção. Se gostarem, vão pagar. Aí o compositor envia a música e pronto. Nunca mais ouve falar dessa gravadora.  

Eu não caí no golpe porque sei que nenhuma gravadora procura compositor dessa forma, normalmente acontece o contrário.

Perceba que o ser humano não precisa da inteligência artificial para prejudicar outro ser humano. Perceba também que a inteligência artificial sozinha (ainda) não consegue lesar outro ser humano. Ela é uma ferramenta como qualquer outra.  Uma ferramenta operada e criada por seres humanos.  

Receba a inteligência artificial

Ferramentas com inteligência artificial estão sendo usadas para recuperar gravações danificadas, masterizar com apenas um clique, separar áudios de gravações para que possam ser estudadas e isso é só o começo.  

É claro que vamos precisar ser melhores que a inteligência artificial. Se você não for capaz de fazer música com mais alma do que um aplicativo que cria músicas, você corre o risco de ficar de fora do mercado. Isso atrapalha sim, eu sei. Mas não dá pra segurar!  

Se surgir uma tecnologia que impeça o ser humano de fazer maldade, não vamos mais precisar de policiais nas ruas. Devemos impedir que essa tecnologia atue? O policial terá que se adaptar. O mundo é assim desde que surgiu. Darwin fez essa revelação.  

Surgirão produtores e compositores de música que nunca tocaram um instrumento ou se quer sabem quais são as notas musicais. Assim como surgiram os produtores de música eletrônica. Qual é o problema? Fazem música por meios diferentes.  

Querer frear a inteligência artificial além de ser um esforço inútil, pode atrasar grandes evoluções dentro da música. Precisamos conhecer todas essas ferramentas e saber como elas podem nos ajudar na construção do trabalho artístico ou técnico.  

O problema não é que a inteligência artificial está copiando a voz dos artistas. O problema é que o ser humano está usando inteligência artificial para copiar a voz dos artistas.  

O problema não é que o carro está atropelando pessoas. O problema é que o ser humano está atropelando pessoas com o carro, entende?

A democratização da inteligência artificial vai impactar todos os mercados. Medicina, engenharia, cinema, publicidade, educação, todos. Na música não vai ser diferente.  

A inteligência artificial vai ser a solução de muitos problemas que enfrentamos hoje na criação e na produção musical, acredite. Mas precisamos estar com a mente e coração abertos para receber essa inovação e se debruçar sobre ela pra entender como essa coisa nova pode te ajudar.  

Cilindro fonográfico, gramofone, disco de vinil, fita, CD, mp3, streaming, gravação ao vivo, multipista, overdubs, plugins, instrumentos virtuais e inteligência artificial. A maneira de fazer música sempre vai evoluir.

Plágio, pirataria, falsificação de instrumentos, falsos empresários, contratantes que não pagam, cachês que nunca sobem e tocar a troco de divulgação. A malandragem do ser humano sempre vai evoluir.

O problema não está na inteligência artificial.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toca Raul, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

Comentários (1)

  • Osmar Ramão Galeano de Souza

    Ce vai dizer isso para as músicas de T Tchaikovsky, Mozart, Beethoven…e mais recente Beatles, Dire Straits, e de quebra, Chico Buarque, Milton Nascimento???
    Ce veio de onde, fio?