Conheça o Trítono: O som “proibido” pela igreja católica
Pode um conjunto de notas soar tão escabroso a ponto de provocar a igreja para proibi-lo?
Eu gosto de pensar que fazer arte é transportar sentimentos por meio de alguma forma de linguagem, de modo que outras pessoas consigam acessá-los sem precisar vivenciar. A arte é um simulador de sentimentos e o Trítono simula sentimentos ruins.
Deixe-me tentar me explicar melhor. Se um diretor de cinema quer provocar alegria no público fazendo com que eles deem risada, ele precisa – usando a linguagem cinematográfica, gravar cenas que possam ser convertidas em riso pela antena de sentimentos do espectador.
Se um pintor de quadros deseja provocar tristeza e melancolia, ele precisa – usando a linguagem das artes plásticas, rabiscar algo que possa ser captado pela nossa antena de sentimentos de modo a nos fazer sentir tristeza e melancolia, sem precisar experimentar algo real que cause esses sentimentos.
Seguindo esse fio da meada, eu acredito que assim como há filmes de comédia, drama, terror, romance e suspense, as músicas também podem ser classificadas dessa forma. Também defendo que, um músico para ser considerado completo, precisa ser capaz de interpretar todos esses gêneros, assim como faz um bom ator, como Jim Carrey por exemplo. Mas isso é papo pra outra hora.
Hoje vamos falar de um conjunto de notas musicais que provoca terror. A junção desses sons se tornou tão aterrorizante e macabro que existe uma teoria que diz que a igreja católica o proibiu de ser executado.
Supostamente, isso ocorreu na idade média, época em que a música carregava um ideal de pureza e deveria ir na direção da lei de Deus que pregava a harmonia. Portanto, um som dissonante (desarmônico) iria contra as leis de Deus.
Dentro dos sons dissonantes, existe o Trítono – o chamado “Som do diabo”, que nada mais é que um intervalo de três tons inteiros entre duas notas. Entre Fá e Si, nós temos o Sol e o Lá. Portanto, de Fá pra Sol temos 1 tom, de Sol pra Lá temos mais 1 e de Lá pra Si mais 1. Pronto, um espaço de 3 tons inteiros entre duas notas. Habemus Trítono.
Segundo a teoria, depois da idade média, a igreja voltou atrás e liberou a execução do Trítono e, de lá pra cá, esse intervalo de notas vem sendo usado em todos os filmes que querem dar uma sensação de medo, tensão, suspense.
Tenho certeza que você já ouviu essa combinação de notas em algum filme macabro:
Quando você escuta essas duas notas, dá uma sensação de angústia, de que algo vai acontecer. Nosso ouvido ocidental, tende a ficar mais tranquilo quando as notas se “resolvem”. Quando fica “no ar”, como é o caso do Trítono, a gente fica com essa sensação ruim. Mas se logo depois desse Trítono de Fá e Si a gente ouvir um Dó, nosso coração fica quentinho porque o acorde “resolveu”. Isso não é viagem não, é explicado na teoria musical dentro do cromatismo. O acorde vai caminhando para a nota que o “resolve”. E o Trítono é uma combinação de som que “não resolve”.
Um exemplo de Trítono que com certeza você já ouviu, está nas primeiras notas da abertura do desenho “Os Simpsons”. Quando é cantada a frase: “The Simpsons” a nota do “The”e do “Sim” formam um Trítono e depois o “sons” resolve o acorde, aquecendo o nosso coração até então angustiado:
Mas a igreja realmente proibiu esse som?
O termo em latim “diabolus in musica” (o som do diabo) realmente aparece em alguns registros históricos de cânticos da igreja, mas, alguns estudiosos acreditam que o termo se referia a dificuldade que os cantores tinham na hora de cantar esse intervalo de notas e não que era proibido de ser executado.
Se eu tivesse uma igreja, eu não ia deixar tocar Trítonos nela.
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