Marina Peralta e suas múltiplas pautas no feminismo, maternidade e causas indígenas
Marina Peralta é uma artista de Mato Grosso do Sul completamente plural com as suas músicas autorais que dão voz a muitas bandeiras como o feminismo e outras causas sociais. Inclusive, em 14 de abril deste ano, a artista lançou “Demarcação”, com o Brô MC’s, grupo de rap indígena do Estado. Desta vez, ela abriu o coração para o Primeira Página e contou sobre essa parceria, o feminismo, a carreira e, claro, a maternidade.

Parceria com Brô MC’s
Marina contou que o desejo de fazer música com os rappers indígenas não é de hoje. Porém, somente agora ele pôde ser realizado. “Demarcação”, segundo ela, foi escrita há uns 3 anos e já imaginava cantá-la com o grupo. Confira abaixo trechos do clipe da canção:
“Fiquei muito realizada de poder fazer isso agora por vários motivos, né? Porque eu sou de família paraguaia, cresci ouvindo meu pai e minha vó falando em guarani dentro de casa. Então é muito especial ter os meninos rimando comigo em guarani em uma música especial pra mim, pro meu pai, que ficou muito emocionado, pra toda a minha família paraguaia, que também ficou muito feliz”, diz.
Além disso, Marina procura levar a temática para todos os locais que ela pisa, e ela reconhece o peso que carrega. “Sendo uma artista sul-mato-grossense e de um Estado que mais mata povos indígenas no Brasil eu fico na responsabilidade de amplificar isso em todos os lugares”, declara.
O interesse pela causa indígena começou cedo na vida de Marina, quando ela ainda estava na universidade, lá por 2012. A cantora participava do movimento estudantil e precisava entender muitas coisas.
“Eu aprendi muito nesse lugar e também pude vivenciar em alguns territórios, através de várias ações. A situação que vivem os kaiowás e guaranis do nosso Estado… Hoje, pra mim, e durante todos esses anos, me sinto na responsabilidade de falar sobre isso e o máximo que eu puder amplificar essa pauta”, afirma.
Sobretudo, Marina admira muito o Brô MC’s e declara que ele merece muito mais do que está conquistando. “Eu queria que eles tivessem muito mais visibilidade do que eles já têm (..) que eles pudessem viver, ganhar dinheiro fazendo isso (…) essas populações vivem em situações muito precárias, então espero que isso também possa ser reconhecido e bem remunerado”, completa.
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Feminismo
O feminismo também está muito presente na vida e na carreira de Marina Peralta. Inclusive, ela tem muito orgulho da luta, mesmo que muitas pessoas ainda não entendam a importância da causa.
“O feminismo só existe porque o machismo existe, senão não teria necessidade da gente existir nesse lugar de luta. O machismo só tem lado ruim. Ele é ruim pras mulheres, ruim pros homens, ele é ruim pra todas as pessoas”, ressalta.
A artista até explica o que é essa bandeira e o que ela representa no mundo. “É um movimento de luta contra a opressão que afeta a nós, mulheres. Ele nasce nesse lugar primeiro. O nosso feminismo precisa ser interseccional. O que significa isso? A gente precisa conseguir construir um movimento que pense em todas as mulheres, não só em algumas”, completa.
Marina até explica que ela não pode ter como base apenas a sua história para construir o movimento de luta, ela acredita que todas devem ser representadas.

“Eu preciso pensar num feminismo anti-racista, preciso pensar nas mulheres pretas e nas particularidades delas, eu preciso pensar nas mulheres com deficiência; mulheres gordas; preciso pensar nas mulheres pobres, sobretudo; eu preciso pensar nas mães. Até arrepio falando”, declara.
Neste mesmo assunto, Marina também lembra das mulheres consideradas radicais na luta. “Eu acho que a gente tem que ser radicalmente contra o machismo mesmo, sabe? E aí cada uma tem uma forma de lidar com isso no dia a dia. Eu canto, por exemplo, me posiciono politicamente em todos os espaços possíveis. Mas a minha ferramenta de luta principal é a música”, explica.
“E quando tem liberdade, a gente tem que respeitar a liberdade da outra. Se a liberdade da outra é ter pelos grandes, a gente vai respeitar essa liberdade. Se a liberdade da outra é depilar, a gente vai respeitar. É sobre o direito de ser livre de fazer sua próprias escolhas”, pontua.
Maternidade
Marina é mãe de duas meninas, Lua, de 5 anos, e Naiá, de apenas 2 meses. Ambas foram muito desejadas pela artista, apesar de, como ela mesmo revelou, ser um susto a descoberta da gravidez.
“Com certeza muita coisa mudou, né? A gente faz renúncias. Desde o primeiro momento que a gente descobre que tá grávida iniciamos as nossas renúncias, e elas seguem toda vida”, diz Marina, cujo tempo mudou completamente após a chegada das filhas. “O tempo que eu consigo me dedicar a compor, a cantar, escrever, tocar violão, mudou muito. Isso de primeira foi um choque pra mim, mas eu fui me adaptando e sigo me adaptando”, aponta.
A cantora até recorda de quando Lua foi com ela em um show, quando tinha apenas 3 meses de vida. A primogênita chegou a andar de van e viajar para outras cidades ao lado da mãe artista. Já Naiá, a caçula, marcou presença em um ensaio recentemente.
Contudo, Marina enfatiza a importância de todas as mães terem uma rede de apoio. “É fundamental nesse momento. O pai delas sempre esteve muito presente nas duas. Mas é muito desafiador. Eu costumo dizer que é muito, muito difícil ao mesmo tempo que é muito muito maravilhoso ser mãe. Ao mesmo tempo que me inspira de outras formas, nas minhas obras, nas minhas músicas e composições e andanças”, revela.
Para ela, é preciso ter um olhar especial para esse lugar de mãe artista. “Porque não é fácil, na verdade para as mães como um todo, né? Porque sem rede de apoio é muito difícil fazer as coisas. Porque antes de ser mãe eu já era a Marina cantora, artista, compositora. Eu não quero deixar de ser quem eu era, eu quero continuar sendo a Marina cantora. Mas agora mãe, só consigo se eu tiver uma rede de apoio, se tiver portas abertas, se eu tiver espaços que pensem nas mães”, manifesta Marina.
Carreira
Por fim, Marina Peralta carrega muita gratidão por todo caminho que já percorreu, por tudo que já realizou e por todas as pessoas que a encontrou no percurso. “Tantas devolutivas especiais que já tive de muitos, mas com certeza eu quero muito mais! Eu aprendi que eu quero mais, desejo transitar em muitas outras cidades, estados, países, galáxias com a minha música”, revela.
Porém, falar o que tem dentro de si é o seu maior desejo. “Que eu possa aperfeiçoar minha obra, minhas produções, meu canto (…) me comunicar com o mundo com questões sociais, falando de amor, maternidade, qualquer coisa eu sentir no meu coração”, finaliza.