Menina é obrigada a se casar aos 12 é mãe aos 13 e se torna uma das maiores vozes da música brasileira

Dona de uma das carreiras mais longas da música brasileira, sua história foi marcada por lutas contra o preconceito, racismo e mercado fonográfico.

Imagine você chegar no auge da sua carreira na música brasileira depois dos 80 anos. Isso aconteceu com essa mulher. 

Ela nasceu em 1930 e ganhou o primeiro Grammy em 2016.

Apesar do auge tardio, a carreira dela foi bastante volumosa e relevante pra música brasileira desde quando ela começou profissionalmente aos 21 anos, em 1951.

Foi obrigada a abandonar os estudos e se casar quando tinha 12 anos com um “amigo” do pai dela que tentou abusá-la. O pai forçou o casamento porque acreditava que isso poderia limpar a honra da filha.

Aos 13 dá a luz ao primeiro filho depois de uma sequencia de violências sexuais. O segundo filho morre de fome porque o marido adoece. Mais tarde o marido morre.

O começo da carreira na música brasileira

Ela trabalhava como faxineira, mas como todo mundo dizia que ela cantava bem resolveu se inscrever num concurso na TV.
Ela pegou uma roupa emprestada da mae, que era bem maior, prendeu com uns alfinetes, e foi cantar.

O auditório e o apresentador do programa caíram na risada. E o apresentador ainda virou pra ela e perguntou:

“De que planeta você veio minha filha”

E ela respondeu:

Do mesmo planeta que o senhor, do planeta fome”

O apresentador do programa era o Ary Barroso. E a caloura de língua afiada, Elza Soares. Ela cantou e tirou a nota máxima.

Ary Barroso teve que reconhecer e anunciou que naquela momento estava nascendo uma estrela.

Elza Soares Ary Barroso
Elza Soares no IV Festival de Musica Popular Brasileira, na TV Record. Foto: José Pinto

Mas a luta da Elza por incrível que pareça estava só no começo

Depois disso ela conseguiu emprego como cantora numa orquestra, mas sempre sempre ela conseguia se apresentar porque alguns clubes não admitiam cantoras negras no palco.

Começou a cantar no rádio e levaram ela pra uma turnê na argentina. Ela levou um calote do empresário que levou todo o dinheiro e ela não tinha dinheiro nem pra voltar pro brasil. Ficou um ano cantando e juntando dinheiro na argentina até conseguir voltar.

Chegando no brasil, surgiu uma oportunidade de gravar um disco. Quando descobriram que ela era negra, desistiram.

Depois de muita luta, Elza Soares conseguiu gravar um disco independente e a carreira começou a deslanchar.

Foi quando um dos maiores nomes do futebol brasileiro se apaixona por ela, se separa da mulher e os dois namoram.

Elza Soares e Garrincha
Garrincha e Elza Soares


Garrincha, era casado e pai de 7 filhos. Elza soares, negra, viúva e desquitada.

A imprensa caiu matando. O garrincha ja não estava mais na sua melhor fase e começou a se afundar no alcoolismo. Colocaram a culpa de tudo na Elza.

Na ditadura, a casa de Garrincha e Elza foi metralhada e eles tiveram que se exilar na Itália.

Quando voltou pro brasil descobriu que a gravadora tinha cedido todo o repertório dela pra Clara Nunes.

Mas nada parava Elza Soares

Ela seguiu cantando ate o fim da vida, alias, até depois do fim da vida.

Com 70 anos foi escolhida pela BBC de Londres como a melhor cantora do milênio.

Com 85 anos ganhou um Grammy latino.

Com 87 fez um show no Central Park em Nova York.

Elza Soares
Elza Soares no palco do Central Park

Com 89 lançou o álbum planeta fome e foi indicada mais uma vez ao Grammy Latino.

Elza Soares planeta fome
Capa do álbum “Planeta Fome”


Com 91 anos, Elza Soares morreu. Mas nem isso foi capaz de pará-la

Quase um ano e meio depois de sua morte, Elza foi indicada novamente ao Grammy Latino pelo álbum “No Tempo Da Intolerância” com musicas que foram retiradas de um caderno secreto de memórias que ela carregava.

Álbum Elza Soares
Capa do álbum “No Tempo Da Intolerância”

Tem gente que não morre né.

Leia mais

  1. Estudante de medicina se apaixona por mulher casada e escreve uma obra-prima da música brasileira

  2. O primeiro sucesso do carnaval brasileiro foi escrito por uma mulher que adotou o próprio marido

  3. “Raul Seixas me enganou por 32 anos”, diz colunista

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toca Raul, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.