Por quê você precisa saber o mínimo sobre música

A música tem ferramentas que podem te induzir a trilhar caminhos que voce não escolheu. Vai ignorar isso completamente?

O engenheiro coloca um teto sobre a nossa cabeça. O médico pode salvar nossa vida.

O engenheiro e o médico nos dão meios pra viver. E o artista? O artista nos apresenta razões para viver.

Mas a música não serve só para o prazer, para a fruição. Só para o “frui”, como disse Santo Agostinho ao separar as coisas úteis (uti) das coisas fúteis (frui).  

O homem cantava para se proteger dos animais da pré-história, há 3.500 anos a.c. O canto é usado até hoje para diferenciação tribal, organização étnica e demonstração de força pelos exércitos. 

Ao longo dos anos fomos encontrando outras utilidades pra música. Há 2000 anos, um ferreiro trabalhava cantando para que o tempo passasse de uma maneira mais agradável. Na era medieval, a igreja cantava para espalhar a palavra de Deus com mais facilidade. 150 anos atrás, trabalhadores colhiam algodão cantando em sincronia para esquecerem da dor.

Há 100 anos humanos fazem música para impressionar outros humanos. Há 90 anos fazem música para ganhar dinheiro e fama. E vários outros novos motivos aparecem todos os dias.

A música é – sem nenhuma dúvida – a arte mais democrática de todas. Por meio da voz, das palmas, da expressão rítmica corporal, um ser humano consegue prender a atenção de outro e fazê-lo sentir sentimentos que nunca foram experimentados.  

Não é preciso tela, nem tinta, nem qualquer outra tecnologia. 

Você pode estar pensando que isso também acontece com o teatro ou na dança. Mas no teatro enfrentamos a barreira da atenção, assim como na dança. Para que o teatro e a dança cumpram o seu papel, é preciso que o espectador tenha uma atenção dedicada aquela apresentação artística. A música não.  

Você é impactado por músicas todos os dias que você não escolheu ouvir e nem prestou atenção. Mesmo assim, a música invadiu a sua alma e alterou a química do seu cérebro. Seja no elevador, no carro, no avião, na rua, no trabalho, na igreja, onde você estiver, essa música que você ouve inconscientemente te influencia fortemente. Impacta, por exemplo, nas suas decisões de compra e até em quem você vota.

Você precisa ter pelo menos uma ideia de como a música faz isso. Quais recursos usam? O que a música pode fazer no meu subconsciente? Como usar ferramentas musicais para me desenvolver melhor no meu trabalho?

Acordes maiores despertam felicidade. Acordes menores melancolia, tristeza. Diminutos sugerem suspense, medo. Uma progressão harmonica que termina na tônica te dá satisfação. Se a volta melódica não resolver na tônica pode te gerar angustia.

Você precisa ter noção sobre como a música faz pra mexer com você.

A música simplesmente existe. É como a natureza. Não dá pra desviar da natureza. A música é a materialização da natureza humana. Assim como o cheiro das flores, o barulho do vento, o calor do sol, o gosto do mel. Música é consequência de ser humano. Ninguém criou a música, ela simplesmente existe.  

A música está no grito, na palma, no assobio, no ênfase da fala, no barulho do tato, no som da respiração, no silêncio.

Se a música é tão fortemente presente nas nossas vidas, a falta de conhecimento sobre ela limita a nossa existência. Não precisamos ser especialistas em música, mas temos a obrigação como seres humanos de não sermos analfabetos musicais, ignorantes completos desse mundo que nos influencia, nos emociona, nos impacta e nos manipula, todos os dias.

Você precisa saber o mínimo sobre o tempo. Você precisa saber o mínimo sobre comida. Você precisa saber o mínimo sobre saúde. Você precisa saber o mínimo sobre as plantas. Você precisa saber o mínimo sobre o ser humano. Você precisa saber o mínimo sobre música.  

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Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toca Raul, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.