Um menino marcado pra ser violentado pelos colegas escreveu uma das mais lindas canções da música brasileira
Um dos maiores artistas da música brasileira conseguiu transformar as dores acumuladas dos traumas de infância em obra-prima
Esse menino entrou muito cedo na escola. Com 5 anos já estava no primeiro ano e todos os colegas eram maiores que ele.
Com 12 anos ele já dava sinais de que entraria pra história da música brasileira. Tocava nas festinhas da escola e quando isso acontecia, as meninas ficavam todas em volta vendo ele tocar e cantar.

Os marmanjos viam a atenção que ele ganhava das meninas, ficavam com raiva dele e o espancavam.
Quando chegou o colegial, a diferença de tamanho dele pros outros colegas era ainda maior. Foi nessa época que situações mais graves começaram a acontecer.
Ele sempre foi um menino com uma sensibilidade muito aguçada e gostava de andar com outros meninos que também eram mais sensíveis. Muitos de seus amigos do colégio eram gays e coisas terríveis começaram a acontecer com eles nessa época.
Uma turma de marmanjos pegava esses meninos levavam pra um lugar escondido na escola, tirava a roupa e estupravam eles.
Começaram a fazer isso com todos os amigos dele até que um dia, ele ficou sabendo que seria o próximo.
O conselho do pai que colocou fim na violência
Com medo de ser o próximo, ele foi até o pai dele e perguntou o que ele poderia fazer. E o pai respondeu: “você vai virar o cão!”
O pai dele disse que o único caminho era a ultraviolência. Pra pôr um fim naquilo ele precisava ser mais violento que eles.
Nessa fase, o menino mais novo que sofria bullying se transformou, respondeu à violência e virou o maior perigo da escola. Acabou sendo expulso do colégio.
Todo esse episódio acabou ferindo o emocional desse garoto que ficou marcado pra sempre e por causa disso, muitas coisas que ele acreditava acabaram ficando pelo caminho.
Foi quando aos 16 anos, esse menino escreveu:
“Quando fui ferido vi tudo mudar
Das verdades que eu sabia”
Guilherme Arantes, assombrado pelos traumas da adolescência e desejando apagar tudo aquilo da memória…
“Daria tudo por um modo de esquecer…”
Meu Mundo e Nada Mais expressa o desejo de reconstruir um universo seguro interior e simples, longe das maldades da vida lá fora.
“Daria tudo por meu mundo e nada mais”
Guilherme Arantes gravou essa música e outras numa fita e ficou mandando para todas as gravadoras durante 7 anos e nenhuma queria gravar.
Até que em 1975 ele estava no Guarujá com a família, há mais de 1 mês, e a mãe dele pediu pra que fosse até a casa deles em São Paulo pra buscar umas contas que eles precisavam pagar.
Quando ele chegou em casa o telefone estava tocando desesperadamente. Ele atendeu e era da Som Livre. Estavam tentando falar com ele há muito tempo porque Meu Mundo e Nada Mais foi escolhida pra entrar na trilha da novela “Anjo Mau”.
O Guilherme quase não acreditou. Só que eles queriam mudar a letra da música.
A música ia ser tema do personagem do José Wilker que ia ser traído pela noiva na novela.

A letra original de Meu Mundo e Nada Mais é assim:
“Me joguei no mundo, vi tudo mudar”
Quando ela entrou na novela por causa do chifre no José Wilker, pediram pra cantar:
“Quando eu fui traído, vi tudo mudar”
Mas o Guilherme achou meio forçado e sugeriu pra que fosse:
“Quando fui ferido”
Todo mundo concordou. Depois a direção da novela pediu também pra ele adicionar um novo verso à música, pra trazer mais do contexto da novela pra dentro da canção. Aí o Guilherme escreveu:
“Não estou bem certo se ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura”
O trauma lançou Guilherme Arantes pra se tornar um dos maiores artistas da música brasileira
Meu Mundo e Nada Mais foi a segunda música mais tocada do Brasil em 1976 e é um dos maiores sucessos da carreira de Guilherme Arantes.