Alfredo da Mota Menezes

Alfredo da Mota Menezes

Acabar com o complexo de vira-lata

A balança comercial hoje tem a força do agro. É só olhar os números.

Nelson Rodrigues tinha uma coluna diária no jornal O Globo. Num artigo que ficou famoso, depois da derrota do Brasil para o Uruguai no Maracanã e perto do jogo com a Suécia em 1958, ele criou o termo: complexo de vira-lata. Que deveríamos acabar com isso.

Colheita de soja em Fazenda de Mato Grosso. (Foto: Rodolfo Perdigão/Secom)
Colheita de soja em Fazenda de Mato Grosso. (Foto: Rodolfo Perdigão/Secom)

Mato Grosso teria que acabar com esse complexo quando se compara com outros lugares do Brasil. É tempo de botar a cara na janela, sozinho ou com outros estados do Centro Oeste, e mostrar uma realidade que o Brasil do litoral e do sul não conhece.

Fiquemos no caso de MT, sem ufanismo, apenas mostrando alguns dados e casos do momento. Gente de São Paulo, Rio ou Minas Gerais sabem o que houve em Mato Grosso nessas últimas décadas? Você já conversou com pessoas de estados do Sul e Sudeste e observaram um pouco de superioridade quando se fala de onde você é?

E, tentando agradar o interlocutor, falam coisas erradas sobre o estado. Fica até engraçado a conversa. É que fora do Sul e Sudeste, o outro Brasil parece tão distante e estranho. É tempo de se começar a “vender” outro MT, o atual e verdadeiro, para o Brasil do litoral e do sul.

Mostrar a revolução no campo. Como isso ocorreu. Ciência e inovação à frente. O trabalho dos sulistas que aqui vieram. Os números da produção por hectare que nenhum outro estado tem. Compara somente com a produção dos EUA por hectare.

A balança comercial hoje tem a força do agro. É só olhar os números e se vê que a “salvação” da balança comercial a cada ano está nos produtos do agro e minérios.

A China provavelmente compra mais produtos de MT que de São Paulo. Além disso, continuo no caso de MT, nem tanto do Centro Oeste, o estado pode se transformar numa potência ambiental. É só preservar o que ainda tem nos biomas do Pantanal, Amazônia e Araguaia.

Quantos estados no país têm três biomas para vender isso pelo mundo? Ganhar dinheiro com preservação ambiental é uma alternativa ali na dobra da esquina. Mais um dado: o estado é fronteira com os países dos Andes.

Pode ter comércio e turismo, em ambas as direções, por ali. E, pelo lado do Mercosul, se tem a Hidrovia Paraguai-Paraná que passa em todos os países da integração econômica.

Quantos estados do país tem essa ligação com a América do Sul? Tudo isso junto não dá para ser mostrado? Não é sair por aí gritando isso ou aquilo. Seria algo de médio e longo prazo, com pé no chão e planejamento, para criar um novo conceito sobre as coisas deste pedaço do Brasil do interior.

Será que não daria para discutir uma hipótese dessas, seja no governo ou outros setores da vida estadual? Receio de que? Ou se vai continuar com o complexo de vira-lata?

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Alfredo da Mota Menezes , e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.