Medicação antiviral para covid-19, onde está?

Vivemos novamente um aumento substancial de hospitalização e óbitos por covid-19 no Brasil. Superamos a média de 100 óbitos diários com 15 estados apresentando aumento da média móvel de óbito nas últimas 2 semanas. Não podemos deixar de destacar que nesta época temos um aumento das viagens, confraternizações e alta transmissão da doença. Há uma […]

Vivemos novamente um aumento substancial de hospitalização e óbitos por covid-19 no Brasil. Superamos a média de 100 óbitos diários com 15 estados apresentando aumento da média móvel de óbito nas últimas 2 semanas.

Não podemos deixar de destacar que nesta época temos um aumento das viagens, confraternizações e alta transmissão da doença. Há uma sensação de segurança e relaxamento das medidas de precaução de forma geral. Todavia, quero reforçar que para certos grupos populacionais mais vulneráveis à doença, esse relaxamento pode trazer consequências irreversíveis.

Nesse momento, além de manter o seu esquema vacinal atualizado, é necessárias algumas precauções que podem ser adotadas a nível individual e algumas medidas que poderiam ser realizadas pelos gestores federais, estaduais e municipais.

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A nível individual por esse período, os idosos, imunossuprimidos e não vacinados deveriam ter um pouco mais de atenção. Nesse sentido, a máscara continua nossa principal companheira, principalmente para prevenir a transmissão em locais onde o distanciamento não é possível como viagem de avião ou de ônibus e atividades associadas à aglomeração, seja em lugar aberto ou fechado.

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Paxlovid da Pfizer é um antiviral oral extremamente efetivo em reduzir a progressão para hospitalização e óbitos e deveria ser priorizado para Idosos e imunossuprimidos (Foto: Divulgação/Pfizer)

Entretanto, outras medidas poderiam já ter sido implementadas impactando na nossa média móvel de óbitos no Brasil. O Paxlovid da Pfizer é um antiviral oral extremamente efetivo em reduzir a progressão para hospitalização e óbitos e deveria ser priorizado para Idosos e imunossuprimidos. Nesses grupos mais vulneráveis, a eficácia da medicação se utilizada nos primeiros 5 dias de sintomas supera 50% na prevenção da hospitalização e óbito mesmo em população com elevada cobertura vacinal.

O governo federal fez uma compra tímida, de apenas 100 mil tratamentos de Paxlovid (Pfizer) para todo o Brasil. Mato Grosso do Sul por exemplo recebeu apenas 600 tratamentos para serem distribuídos para 79 municípios. Houve uma lentidão na distribuição para os estados e municípios e nenhum apoio no que diz respeito a estabelecer os treinamentos necessários para os médicos e os fluxos de liberação da medicação.

Dessa forma, o que estava previsto aconteceu. Cada estado adotou um fluxo próprio, os municípios por sua vez devem estabelecer o acesso em seus serviços de saúde e treinar as equipes e de alguma forma atuar na desburocratização do processo, garantindo o amplo acesso aos pacientes elegíveis. Não é isso que vemos na prática.

Hoje para um profissional prescrever a medicação para seu paciente, deve primeiro buscar como o fluxo de cada local funciona, preencher sistemas ou papéis, aguardar a liberação para então encaminhar ao serviço onde a medicação estará disponível, o que muitas vezes também não é amplamente divulgado. Dessa forma, há um desestímulo à prescrição da medicação e grupos de risco sem receber mais uma efetiva arma contra a doença.

Quando analisamos os dados de óbito no Brasil, claramente esse aumento ocorreu em pessoas acima de 50 anos sendo essa faixa etária a responsável pelo aumento da nossa média móvel de óbitos. Com a vacinação em dia e antiviral disponível, poderíamos reduzir pelo menos pela metade o impacto dessa nova onda. Estima-se que pelo menos 50 vidas poderiam ser salvas diariamente.

Recentemente, o Governo Federal deixou claro que não comprará lotes adicionais do antiviral e portanto a Anvisa aprovou a venda desse antiviral no setor privado. O preço sugerido do tratamento nas grandes farmácias poderá variar de 2300 a 3000 mil reais e estará disponível até final do mês segundo para aquisição. Mais uma vez o que iremos observar é que o acesso será restrito à população com melhores condições econômicas, enquanto a população mais pobre que depende do SUS terá dificuldade em acessar os melhores tratamentos específicos para covid-19.

Nesse momento, é importante que o governo federal e eventualmente estados e municípios tenham um contrato específico para fornecimento de um número maior de tratamento antiviral para a população. Idealmente, esse tratamento deveria ser ofertado em toda unidade básica de saúde ou através da farmácia popular e disponibilizado no mesmo dia da confirmação da covid-19.

Sem tratamento disponível e sem um fluxo correto, o que iremos ver agora nas próximas ondas é um impacto maior em termos de número de óbitos nas populações mais carentes e que depende exclusivamente do SUS. A velha conhecida desigualdade pairando novamente nas políticas de saúde no Brasil.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Saúde em Evidência, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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