O Carnaval e as máscaras
Até que haja evidências robustas que alguma das atuais medidas de prevenção são realmente ineficazes e com potencial prejudicial, devemos seguir nos protegendo
Recentemente vimos as máscaras tornarem-se novamente tema polêmico quando o assunto é prevenção à covid-19. O tema ganhou repercussão após o CFM (Conselho Federal de Medicina) enviar um ofício à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), afirmando que não há justificativa para a recomendação ou obrigatoriedade do uso de máscaras pela população geral como política pública de combate à pandemia.

O presidente do Conselho afirma, baseado em um artigo científico de revisão de dados, que não há evidência científica para que o uso de máscaras de forma “banalizada e disseminada na sociedade tenham algum impacto sobre a transmissão da covid-19”.
Nas redes sociais muitos se manifestaram sobre o documento, defendendo a suspensão do uso de máscaras de maneira geral, e até comparando a aglomeração da festa de Carnaval, onde não há nenhuma obrigatoriedade de máscaras, com aviões e serviços de saúde, locais em que a recomendação do uso mantém-se.
Analisando as afirmações do Conselho à luz da metodologia científica e da prática baseada em evidências, é possível concluir que a revisão em que se baseiam as justificativas para a suspensão do uso de máscaras pela Anvisa, é insuficiente para as várias recomendações propostas. O estudo apresentou várias limitações metodológicas, e deixou bem claro que o nível de evidência é baixo para conclusões como as propostas pelo CFM.
Saindo um pouco do eixo técnico científico estrito e com um visão ampliada da pandemia de covid-19 como um todo, recomendações dessa natureza, sobretudo por órgãos oficiais de classe médica, são contraproducentes e não orientam da forma que deveria. O fato é que ainda temos uma média de 55 óbitos por covid-19 por dia no Brasil, que o vírus tem uma capacidade enorme de modificar-se e o surgimento de novas variantes segue sendo o grande desafio para a prevenção de novas ondas.
Sabemos que há uma população sob risco para casos graves da doença e o foco está em como proteger esses mais vulneráveis de se infectar.
Dessa forma, até que haja evidências robustas que alguma das atuais medidas de prevenção são realmente ineficazes e com potencial prejudicial, devemos seguir nos protegendo, protegendo os mais vulneráveis e seguir em um esforço coletivo para o pleno controle da doença.
No momento atual da pandemia é importante deixar claro que as máscaras apenas nos aeroportos provavelmente é ineficaz do ponto de vista de saúde pública. Mas a partir da agora avaliação de risco é individual, a máscara continua ter um papel relevante e deverá ser usada por pessoas com sintomas gripais, idosos extremos e imunossuprimidos principalmente em locais fechados e associados à aglomeração.