Povos do Xingu contam desafios para ter acesso à saúde no 4º episódio de Originários
Sem estrutura, os pacientes indígenas são atendidos de forma improvisada. Cacique diz que é preciso que as equipes de saúde visitem as aldeias
Os desafios dos indígenas para receberem atendimento médico é o tema do quarto episódio da série Originários, que é exibida pelo Primeira Página e pela TV Centro América.
A reportagem feito pelos repórteres Gustavo Nolasco e Fábio Barros, mostra a vida e a cultura dos povos que ocupam o Parque Nacional do Xingu. (Assista o vídeo abaixo).
Lá na região, a Capai, uma casa de passagem, em Gaúcha do Norte, a 595 km de Cuiabá, é o ponto de referência para atendimentos de saúde ofertados aos indígenas de 38 aldeias.
No entanto, o que as paredes de madeira abrigam é um serviço improvisado.
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Assista o 2º episódio: 2º episódio da série Originários aborda culinária indígena dos povos do Xingu
Assista o 3º episódio: O desafio da linguagem é tema do 3º episódio da série Originários
“Não tem uma sala pra idosos, não tem uma ala pra gestantes, puérperas ou pacientes que fizeram cirurgia. É tudo improvisado, mas isso não é legal. Porque a gente está mexendo com vidas e os pacientes precisam de um lugar específico para se recuperarem”, disse Yahu Mehinako, coordenador da casa de passagem.

A pandemia da covid-19 provocou inúmeras mortes entre os indígenas. e as aldeias ainda tentam superar os traumas. O sentimento é de indignação, não apenas pelos que morreram, mas pela sensação de abandono.
“Por que uma equipe não vem fazer a vigilância? Esse povo é egoísta, ganha seu salário e não vê o que o povo está passando. Nem pisam nas aldeias, nem vem aqui no Parque Indígena do Xingu pra ver o que está acontecendo”, afirmou o cacique Mapi Aweti.
A distância
O Parque Indígena do Xingu tem uma área quase 60% maior do que o município de Gaúcha do Norte. Chegar nas aldeias representa um enorme desafio para as equipes de saúde. Sem atendimento, os indígenas é que se deslocam até a cidade.

Um dos casos mais dramáticos é o de Kamihu. Não é possível saber a idade dela, porque a anciã da etnia Kuikuro não tem documentos. Ela sofreu um acidente vascular cerebral e está morando na casa de passagem há, pelo menos, dois anos.
Outro caso é o de Kaji, da etnia Waura, que acaba de voltar de um tratamento sem sucesso no Rio de Janeiro – uma ferida aberta na perna desafia a estrutura do local.

A enfermeira do local afirma que a equipe faz o que pode e trabalha com os poucos recursos disponíveis.
“Como que eu vou deixar um paciente num lugar assim? Então, eu acabo sendo negligente com a minha profissão. Tudo que eu aprendi, como vou atuar aqui na prática? Colocar em prática um curativo asséptico, tendo uma estrutura bem debilitada. A gente tenta fazer o possível e o impossível aqui pra fornecer um tratamento mais digno”, disse a enfermeira Fábia de Oliveira Geraldo.