Alvos do Gaeco foram à casa de deputado de MS com veículos usados em roubos
Operação deriva de flagrante de 700 máquinas usadas para o jogo do bicho, ocorrida em outubro, em Campo Grande
A operação “Successione”, deflagrada nesta terça-feira (5) pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), desvendou como os alvos atuavam para tentar tomar o controle do jogo do bicho em Campo Grande, como reflexo do vácuo deixado pela operação Omertà, que atacou a atividade ilegal desde 2019.

De volta das férias, a Capivara Criminal apurou que metade dos implicados foram à casa do deputado estadual Neno Razuk (PL), num condomínio de luxo de Campo Grande, em algum momento, sempre a bordo dos carros usados para os roubos de malotes com dinheiro levantado com as apostas.
Em comum, entre os 10 alvos de prisão, também foi identificada a presença em imóvel onde foram apreendidas 700 máquinas do jogo do bicho, no dia 16 de outubro, por equipe do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros).
Essa apreensão originou a operação deflagrada agora.
Veja quem é quem entre os que
tiveram a prisão solicitada pelo Gaeco:
- Diego Sousa Nunes: é assessor parlamentar de Neno Razuk (PL). Foi encontrado no ponto de concentração do jogo do durante diligência feita pelo Garras em outubro. Aparece na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos roubos de malotes com dinheiro do jogo do bicho sob investigação.
- José Eduardo Abdulahd: conhecido como “Zeizo”, é um empresário de Ponta Porã que já esteve envolvido em operações contra jogos como, por exemplo, as operações “Xeque-Mate” e “Gato Preto”. Ele foi encontrado no QG do jogo do bicho durante diligência feita pelo Garras. Também aparece na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos assaltos em questão.
- Manoel José Ribeiro: sargento da reserva da Polícia Militar, conhecido como “Manelão”, é assessor parlamentar de Neno Razuk. Foi encontrado na casa onde estavam as máquinas apreendidas em outubro. Além disso, foi reconhecido pelas vítimas como executor de dois dos três roubos apurados. Por último, figura na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos roubos.
- Gilberto Luiz dos Santos: major da Polícia Militar, chamado de G.Santos, “Coronel” ou “Barba”. É assessor parlamentar de Neno Razuk, suposto mandante dos roubos, de acordo com a investigação. Foi encontrado no ponto de concentração do jogo do bicho durante a ação do Garras. Aparece na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos roubos. Além disso, foi flagrado pelo Gaeco conduzindo o mesmo veículo usado nos roubos.
- Julio César Ferreira dos Santos: filho de Gilberto Luiz. Estava no QG que armazenava máquinas usadas para registrar apostas. Conforme o trabalho do Gaeco, está na relação de visitantes do deputado estadual, no Damha III, com um dos carros usados nos assaltos a operadores do jogo ilegal.
- Mateus Junior Aquino: foi usado por Gilberto Luiz para ameaçar uma das vítimas, indica a investigação. Conforme apurado, era vinculado a outro grupo que explorava o jogo do bicho em Campo Grande, mas recentemente filiou-se à organização criminosa supostamente comandada por Razuk.
- Taygor Ivan Moreto Pelissaro: estuda Medicina em Ponta Porã, estava no “QG” e foi pego em armado, em Ponta Porã, em 19 de outubro, três dias depois da apreensão das máquinas.
- Tiano Waldenor de Moraes: foi encontrado no ponto de concentração do jogo do bicho durante diligência do Garras. Foi identificado em filmagens feitas por câmeras de segurança como o executor de um dos roubos.
- Valmir Queiroz Martinelli: suspeito de ser o responsável pela aquisição de maquinário, entre outros acessórios necessários ao funcionamento do jogo do bicho. Esse comércio ocorre em meio clandestino. Foi encontrado na casa do jogo do bicho em 16 de outubro. Durante as investigações foi flagrado pelo Gaeco conduzindo um dos veículos usados nos roubos.
- Luiz Paulo Bernardes Braga: foi encontrado no ponto de concentração do jogo do bicho durante diligência feita pelo Garras. Estaria morto, e, segundo a investigação jornalística da coluna, não foi esclarecida sua participação no esquema.
Passado
Os policiais reformados Manoel José e Gilberto Luiz foram acusados de integrar grupo de extermínio formado por policiais do GOF (Grupo de Operação de Fronteiras), que originou o atual DOF, e foram pronunciados pela prática de um homicídio em 1997.
Contudo, foram absolvidos em 2008. Gilberto se auto-intitulava coronel da PM e usava a patente para impor respeito dentre os outros envolvidos no esquema, indica o trabalho investigatório.
“Ele não tem absolutamente nada na sua ficha funcional, também não há condenação que pese contra ele. Sempre foi um policial militar exemplar e eu não vejo fundamento em estar vinculando a imagem dele a este tipo de coisa”.
Sebastião Francisco dos Santos Junior, advogado de Gilberto
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O advogado Riad Abdulhad, filho de “Zeizo”, disse que está avaliando a representação de alvos da operação, mas que ainda não teve acesso aos autos e por isso não poderia se manifestar ainda.
O pai dele é um dos três alvos que ainda não haviam sido presos até o fechamento deste texto.
O que dizem o deputado e Assembleia Legislativa
Neno Razuk deu entrevista na Assembleia Legislativa, afirmando que não tem nada a ver com o jogo do bicho. Em sua fala, declarou que a atividade “segue solta” na cidade e que estão tentando atribuir a ele o comando, injustamente.

Ele é filho de Roberto Razuk, ex-político de Dourados que já foi alvo de invistigação como chefe do jogo do bicho no sul do estado. Razuk pai cumpriu pena por muitos anos, por uma fraude com dinheiro público, mas nunca foi formalmente responsabilizado por ligação com jogos de azar.
Perguntado sobre os três assessores do gabinete de Neno que foram presos, o presidente da Assembleia Legislativa, Gerson Claro (PP), afirmou à coluna que a Casa de Leis aguardará comunicado oficial para definir providências.
Neno Razuk foi procurado via assessoria de imprensa com o questionamento sobre a manutenção dos comissionados e não houve retorno.
Coluna escrita com a colaboração da jornalista Jéssica Benitez