Mãe, irmã, namoradas: músico tem vasto histórico de violência contra mulheres

Vanessa procurou a polícia pela primeira vez na madrugada de quarta-feira (12); relatou sofrer ameaças e contou que era impedida de sair de casa por Caio

O assassinato de Vanessa Ricarte, de 42 anos, foi o ápice da violência de um homem já conhecido por passagens na polícia e um comportamento agressivo contra mulheres. Na lista de vítimas do músico Caio Nascimento, somam-se a mãe, a irmã e ex-namoradas que, assim como a jornalista, procuraram a polícia na esperança de pôr fim aos crimes.

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O músico Caio Nascimento foi preso em flagrante (Foto: Redes Sociais)

Na certidão estadual de antecedentes criminais, Caio coleciona 16 processos. Um por roubo, outro por um acidente de trânsito, um terceiro por difamação, mas a grande maioria, e o que realmente chama atenção, por violência doméstica. Pelo menos em cinco casos, as vítima pediram medidas protetivas contra ele.

Na lista, não há detalhes dos casos, apenas as datas:

  • Fevereiro de 2023 – medida protetiva de urgência
  • Abril de 2022 – medida protetiva de urgência
  • Julho de 2024 – medida protetiva de urgência
  • Dezembro de 2023 – medida protetiva de urgência
  • Setembro de 2023 – violência doméstica, ameaça
  • Julho de 2021 – violência doméstica, ameaça – quando Caio foi preso em flagrante e permaneceu detido por três dias
  • Maio de 2021 – ameaça – medida protetiva

Durante coletiva de imprensa realizada na Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) nesta quinta-feira (13), a delegada Elaine Benicasa afirmou que as vítimas eram ex-namoradas e até a mãe e a irmã de Caio.

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Apesar da grande ficha criminal, alguns dos processos ainda estavam em fase de investigação. Mas cada caso, segundo a delegada, mostrava uma personalidade agressiva e perturbada.

“Uma pessoa totalmente perturbada, com passagens por roubo, com tentativas de suicídio, e algumas ocorrências de violência doméstica contra a mãe, contra a irmã, contra outras mulheres. Cada caso era diferente, algumas com ameaças, outras com lesões”.

Elaine Benicasa

Vanessa procurou a polícia pela primeira vez na madrugada de quarta-feira (12). Em depoimento, relatou sofrer ameaças, contou que era impedida de sair de casa por Caio e ainda que teve fotos íntimas expostas. Assim como as outras vítimas, ela pediu medida protetiva, medida que foi concedida pela justiça em menos de 24 horas, mas não foi o suficiente para salvá-la.

As últimas horas de Vanessa

Vanessa
Vanessa tinha 42 anos (Foto: Arquivo)

O boletim de ocorrência de Vanessa foi registrado de madrugada. Na tarde do mesmo dia, por volta das 15 horas, ela voltou à delegacia para saber se a medida protetiva havia sido aceita. Segundo Benicasa, a jornalista foi atendida pela delegada plantonista.

“Ela informou que a medida protetiva já havia sido autorizada e ofereceu à Vanessa que ela permanecesse no abrigo aqui da Deam até o autor ser intimado, já que ele morava com ela e precisava saber que ali não poderia ficar mais, mas ela afirmou que tinha outro lugar para ficar, que ficaria na casa de amigos”.

Em todo esse processo, Vanessa estava com um amigo e, assim que saíram da delegacia, foram juntos à casa dela, para buscar roupas. No entanto, ao chegarem, encontraram Caio.

A partir desse momento, tudo que a polícia sabe foi descrito pelo amigo de Vanessa. Nas palavras dele, a jornalista pediu que Caio saísse da casa e, aparentemente, ele concordou. A testemunha resolveu ligar para uma outra amiga, para pedir ajuda, avisar que a situação ali estava tensa, e foi nesse segundo, em que tudo parecia “calmo”, que o crime aconteceu.

Caio aproveitou o momento para ir à cozinha, se armou com uma faca e atacou Vanessa. Foram três golpes, todos na região tórax. O amigo da jornalista correu para ajudar. Conseguiu tirá-la de perto do suspeito, a arrastou para um cômodo da casa e se trancou ali com ela.

O suspeito esmurrou a porta, pediu para entrar, ameaçou mais uma vez. Mas depois de um tempo, “se acalmou”, pediu um cigarro e uma bebida. O amigo de Vanessa aproveitou a oportunidade para chamar a polícia.

Polícia Civil e Polícia Militar foram acionadas. Os militares chegaram primeiro e descobriram que o autor do crime estava no andar de cima da casa, trancado. Foram eles que fizeram a prisão em flagrante de Caio.

Vanessa foi socorrida em estado grave, chegou a ser levada para a Santa Casa, mas não resistiu.

Na delegacia, Caio não quis falar, preferiu ficar em silêncio.

Ainda de acordo com a delegada, Caio é “conhecidamente” usuário de cocaína. Para Vanessa, ele prometia largar o vício. Os dois moravam juntos há quatro meses e, em dezembro do ano passado, anunciaram que iriam se casar.

Meses depois, diante da recepcionista da Deam, Vanessa falou abertamente que jamais esperava estar ali, na condição de vítima. Para as delegadas, é por isso que ela também acreditou que jamais Caio chegaria ao extremo.

“A vítima não acredita que o autor vai ter coragem. Ela vem, faz o registro do boletim de ocorrência e não acredita que ele vai chegar a esse ato cruel”.

Analu Ferraz, delegada Deam

“A gente nunca acredita que isso vai acontecer com a gente”

Elaine Benicasa

Vanessa era assessora de imprensa do MPT (Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul). Nesta quinta-feira, o órgão público emitiu uma nota de pesar pela morte da jornalista.

“Vanessa Ricarte era uma profissional dedicada e comprometida com a missão institucional do Ministério Público do Trabalho, contribuindo de forma significativa para a divulgação e conscientização sobre os direitos trabalhistas e a Justiça social. Sua perda é um golpe não apenas para a instituição, mas para toda a sociedade, que vê mais uma vida ceifada pela violência de gênero”.

Nota MPT
bastaaa

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Comentários (3)

  • Antônio Cavalcante de Souza

    Nosso Sentimentos aos Familiares. Tem que repensar o modelo de Família de que muitas Vezes é dado tratamento direto te entre Homem d Mulher e que o Homem deve ser Forte e nunca baixa a cabeça principalmente se for Mulher aí SE FORMA ESTES MONSTROS PNDE AS AGRESSÕES COM MULHERES COMEÇA COM MÃES, IRMÃS, PROFESSORES E CHEGA AO EXTREMO COM NAMORADA, NOIVA, ESPOSA , AMANTES E QUEM NEGAR A ELE SEIS INTERESSES, DESDE QUE Seja MULHER. MUITO TRISTE.

  • Antônio Cavalcante de Souza

    A Redação e Leitores!

    Desculpe os Erros de português no texto acima, é que assunto sensível deste da revolta e enviei sem correção.

  • Emanoel

    Absurdo ela não ter saído da delegacia já com escolta de proteção, dado o histórico do assassino!