Capivara Criminal

Operação Chiusura: a trajetória do “Especialista do PCC”

Thiago Gabriel Martins da Silva é o mentor do assassinato de "Alma" e foi alvo de uma operação do Distrito Federal

Entre os últimos meses de 2021 e os primeiros de 2022, Campo Grande “viveu” as investigações do desaparecimento do garagista Carlos Reis de Medeiros de Jesus, vulgo “Alma”.

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Carlos Reis Medeiros de Jesus, o “Alma” assassinado em 2021 (Foto: Redes Sociais)

Visto pela última vez em 30 de novembro de 2021, não tardou para o homem de 52 anos ser considerado morto. Também não demorou para a polícia identificar os envolvidos no assassinato e o mentor do crime: Thiago Gabriel Martins da Silva, conhecido como “Especialista”.

Thiago era, já naquela época, integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital), a pessoa que matava aqueles que se opusessem às ordens da facção e às dele também. Alma foi uma dessas vítimas.

O garagista era também agiota e tinha uma relação próxima com Thiago. Antes disso, era sócio do pai dele e foi por causa de “negócios herdados” que o homicídio aconteceu.

Muito resumidamente, e sem citar todos os nomes envolvidos, te explico que o pai de Thiago morreu em 2020 e deixou muito dinheiro emprestado na “praça”. Na tentativa de receber essa “herança”, o filho procurou Alma. Juntos, eles cobraram o maior devedor da família, mas não conseguiram nada com isso.

Thiago planejou então, o seu assassinato. Alma até concordou no começo, mas depois se recusou a participar. Foi, segundo a polícia, por isso que se tornou alvo.

Dono de uma longa ficha criminal por roubos, estelionato, tráfico e homicídio, Thiago também devia a Alma.

Thiago circulado de vermelho quando foi preso na Bolívia (Foto: Divulgação)
Thiago circulado de vermelho quando foi preso na Bolívia (Foto: Divulgação)

Talvez, por isso, a ideia de matar o garagista pareceu tão tentadora. Bem, isso não se pode afirmar com certeza. Mas o que se sabe é que no dia 30 de novembro de 2021, ele atraiu o “amigo” até sua empresa sob justificativa de que pagaria tudo que devia, mas lá, matou Alma com tiros e facadas e depois se apossou de todos os carros que ele tinha adquirido como garantia dos empréstimos ilegais que fazia.

Esses carros foram revendidos e, nessa altura, a polícia começava a descobrir todo o desenrolar do crime. Os comparsas de Thiago foram presos, mas ele mesmo fugiu.

Enquanto o caso ia para a Justiça, a polícia tentava encontrar o “Especialista”. Em 2023, a busca chegou ao fim, mas não como se esperava.

Thiago foi preso na Bolívia, com um avião carregado de cocaína, armas de grosso calibre e granadas. Os anos se passaram e os pedidos de extradição do assassino de Alma para o Brasil não andaram e, depois de quase dois anos detido no país vizinho, o nome dele voltou às manchetes policiais.

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Operação Chiusura

Depois de te contar todo o passado de Thiago, volto para o presente.

Se na época em que foi acusado de homicídio Thiago não “era tão importante assim dentro do PCC”, a polícia de Campo Grande tinha certeza de que, com os anos na Bolívia, ele se tornaria.

A investigação da Polícia Civil do Distrito Federal, revelada nesta semana, confirmou a teoria.

Thiago, mesmo preso, foi apontado como um dos líderes de um esquema de tráfico internacional de drogas que envolvia suspeitos de vários estados brasileiros.

“Apurou-se que traficantes oriundos de Goiás, atualmente radicados em Maceió/AL, mantêm associação criminosa com um traficante internacional natural de Campo Grande/MS, identificado como líder local de uma facção criminosa paulista. Esse indivíduo encontra-se preso na Bolívia desde o ano de 2023, ocasião em que foi capturado com granadas de uso restrito e uma aeronave carregada com cocaína.”

Nota divulgada pela PCDF

Segundo a polícia, era Thiago quem fornecia droga para o Distrito Federal. As cargas eram enviadas da fronteira da Bolívia com o Brasil, através de Mato Grosso do Sul, em veículos.

Para administrar o esquema de tráfico, Thiago contava com a família. Na investigação da Polícia Civil, o grupo foi nomeado como Núcleo Sinaloa – referência ao cartel mexicano especializado em tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.

Irmãos e a mulher de Thiago atuavam como testa de ferro da organização criminosa. Eram eles quem recebiam o dinheiro do tráfico. Com isso, mantinham um estilo de vida de luxo.

A prova foi que na sexta-feira, dia 28 de março, todos eles foram presos no Rio Grande do Norte, “onde um dos investigados possuía uma pousada”.

Foram presos temporariamente:

  • A advogada Aline Grabriela Brandão, casada com Thiago desde 2020 (apesar de correr na Justiça processo de divórcio litigioso, pedido por ela em 2023).
  • Ronaldo Cardoso, conhecido como Ronaldo da CAB (Centro de Apoio aos Bairros), suplente de vereador pelo Podemos e padrasto de Thiago
  • Rodrigo José Martins da Silva, advogado e irmão de Thiago.
  • Pedro Jorge Martins da Silva, irmão de Thiago
  • Andressa Almeida Fernandes, esposa de Pedro, cunhada de Thiago

Da lista de nomes, três são bem conhecidos em Campo Grande.

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Aline Brandão em frente a delegacia no Rio Grande do Norte (Foto: Redes Sociais)

Aline, criminalista há pelo menos 10 anos, é enteada (e advogada) de José Cláudio Arantes, o “Tio Arantes”. Por anos, ele foi considerado o principal líder do PCC em Mato Grosso do Sul. Não é para menos, foi um dos cabeças da rebelião mais violenta já ocorrida no estado, no ano de 2006, no Estabelecimento Penal de Segurança Máxima, em Campo Grande.

Tio Arantes acumula passagens que vão de tráfico a roubo a banco. Na maioria dos casos, Aline era sua advogada. Em novembro de 2021 (no mesmo mês em que Alma era assassinado) ele fugiu do presídio semiaberto da Gameleira e foi capturado em 2023, coincidentemente, ou não, também na Bolívia.

Rodrigo José Martins, em 2022, chegou a ser preso por envolvimento na morte de Alma, mas foi inocentado das acusações de ajudar o irmão. Na época, ainda era estudante de direito.

Já Ronaldo Cardoso, além de todo o destaque político, virou notícia no início deste ano porque ficou desaparecido por dois meses.

Ele saiu de casa em novembro de 2024 e só apareceu em janeiro de 2025. No retorno, gravou um vídeo para os integrantes do Centro de Apoio aos Bairros e alegou ter passado por momentos complicados e problemas particulares que fizeram com que se afastasse da família e do projeto.

Agora, todos são investigados juntos (e estão presos juntos) pelo envolvimento no esquema liderado por Thiago.

Enquanto isso, o “Especialista do PCC” continua na Bolívia, os pedidos de extradição (porque são mais de um, da Polícia Civil e da Polícia Federal) continuam parados e os crimes cometidos no Brasil impunes.

(A Capivara Criminal abre espaço para a defesa dos envolvidos na operação)

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