Assustou com a tempestade de poeira? Pode ocorrer de novo, dizem especialistas
Inédita até então, a tempestade de poeira que atingiu o Estado na semana passada pode ocorrer novamente, segundo especialistas. O desmatamento aliado as queimadas frequentes e a seca, principalmente na região do Pantanal, influenciam na ocorrência do fenômeno, que resultou em acidentes fatais e causou transtornos para milhares de pessoas, desde falta de luz a […]
Inédita até então, a tempestade de poeira que atingiu o Estado na semana passada pode ocorrer novamente, segundo especialistas.
O desmatamento aliado as queimadas frequentes e a seca, principalmente na região do Pantanal, influenciam na ocorrência do fenômeno, que resultou em acidentes fatais e causou transtornos para milhares de pessoas, desde falta de luz a destruição de casas e carros.
O professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Vinicius Capistrano, que integra a equipe do Laboratório de Ciências Atmosféricas da instituição, e o meteorologista Natalio Abraão, ressaltam que o fenômeno visto na última sexta-feira (15), não tem precedentes no Estado.
“Não nesta magnitude. Alguns fatores podem ter contribuído para a formação da nuvem de poeira. Notoriamente, parte da região de Mato Grosso do Sul vem enfrentando escassez de chuva. Exemplo, no ano de 2020 apresentou um acumulado de precipitação anual muito baixo, sem precedentes nas observações dos últimos 40 anos, quando se começou a obter dados mais confiáveis, em especial no centro e norte do Estado”, frisa Capistrano.

Tempestade de poeira
O meteorologista Mamedes Luiz Melo, que atua no Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia, explica que a nuvem de poeira é formada quando uma frente de rajada de vento, que costuma anteceder a tempestade, encontra o solo exposto, sem vegetação, normalmente em áreas agrícolas. Quando o vento chega ocorre ressuspensão de poeira, que pode atingir o nível das nuvens e espalhar para diversos pontos.
“Normalmente entre o período de estiagem e início do período de chuvas, isso é comum de acontecer. Porém, ocorre mais em plantações, áreas agrícolas, onde o solo não tem verde”, explica Melo.
Como a chuva nesse período ainda não é regular o suficiente para amenizar a condição do solo, o fenômeno pode ocorrer novamente. “Ainda este ano”, alerta o meteorologista Natalio Abraão.
Capistrano ressalta ainda que a ação do homem também está relacionada a ocorrência do fenômeno. “O primeiro agente está relacionado com o desmatamento e as queimadas, pois os mesmos são fatores que modificam a vegetação nativa. Comumente, tais práticas são realizadas para abertura de pasto ou lavouras. Em algum momento, antes da semeadura do pasto ou lavoura, pode ocorrer do solo estar sem nenhuma cobertura vegetal ao mesmo tempo que ocorrem rajadas de ventos, o que gera a ressuspensão da poeira e fuligem”, explica.
Outro ponto é a mudança climática a nível global.
“Eventos extremos de calor, chuvas ou seca têm sido mais recorrentes. Embora seja difícil atribuir a maior recorrência de chuvas acompanhadas de nuvens de poeira às mudanças climáticas, este é um sinal compatível com o aumento de Efeito Estufa na atmosfera. Neste contexto, é possível dizer que há sim mais chances de eventos desta natureza ocorrerem de modo mais frequentes que antes”
Vinicius Capistrano, professor da UFMS

Maior rajada de vento em 15 anos
Segundo o Inmet, as maiores rajadas de vento no dia 15 de outubro foram em Corumbá (145 km/h), onde sete pessoas morreram com o naufrágio de um barco no Rio Paraguai devido à tempestade, Rio Brilhante (110 km/h) e em Campo Grande (102 km/h). No dia anterior, a ventania atingiu São Paulo, com rajadas de 75 km/h em Ribeirão Preto e 61km/h em Pradópolis. Os dados são do Inmet.
“A última velocidade do vento mais forte foi no dia 6 dezembro 2006 com 144kmh e 127mm de chuva em uma hora”, pontua Natálio Abraão.
Previsão do tempo
Por enquanto, segundo o Inmet, as chuvas em Mato Grosso do Sul ainda não estão regulares, mas devem melhorar. “As previsões de médio prazo, nas próximas semanas, são um desafio, principalmente em termos de chuva. Contudo, com base num modelo numérico há indicativos que haverá uma continuação das chuvas até o final do mês de outubro. Sobre Mato Grosso do Sul, é previsto um canal de umidade, apontando para precipitação acumulada variando de 60 a 200 mm”, frisa Capistrano.
Hoje e amanhã (19), o clima deve continuar com muitas nuvens, pancadas de chuva e trovoadas isoladas, em diversos municípios do Estado, como Campo Grande, Dourados e Corumbá. Na Capital, a máxima pode chegar a 28°C, de acordo com a previsão do Inmet.