VLT e BRT: R$ 1,5 bilhão gasto e população continua sem transporte
O que era para ser o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) virou Bus Rapid Transit (BRT), e agora a própria construção do BRT está ameaçada
O que deveria maior obra de mobilidade que Cuiabá e Várzea Grande já viram se tornou um dos maiores desperdícios de dinheiro público do Brasil.
Em mais de uma década, R$ 1,5 bilhão já foi gasto. Trilhos importados foram instalados e depois arrancados e a região metropolitana continua sem um sistema eficiente de transporte público e a população continua andando espremida em ônibus lotados.

A princípio, o grande modal de transporte visando a Copa do Mundo de 2014 era o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que nunca andou. As obras começaram há 12 anos, mas nunca ficaram prontas, e agora a própria construção do BRT está ameaçada.
VLT: uma novela de erros e desperdício
A história começou em 2012, quando o governo de Mato Grosso contratou um consórcio para implantar o VLT, um sistema de trens modernos que deveria estar operando para a Copa do Mundo. Pelo contrato de R$ 1,4 bilhão, apenas 30% das obras foram concluídas, e o projeto foi paralisado. Investigações apontaram corrupção e superfaturamento, levando à prisão do então governador Silval Barbosa.

Sem acordo para retomar as obras, a Justiça suspendeu o contrato. Em 2020, o atual governador Mauro Mendes decidiu abandonar o VLT com o argumento de que a continuação da obra ficaria mais cara e seria inviável. Desse modo, foi feita a conversão para o BRT, que deveria ser mais barato e rápido de implantar. O problema é que, quatro anos depois, o BRT ainda não saiu do papel.
BRT: outra promessa quebrada
O contrato para a construção dos corredores de ônibus do BRT foi assinado em 2022 por R$ 468 milhões, com previsão de entrega para outubro de 2023. No entanto, menos de 20% das obras foram concluídas, e o governo estadual anunciou a rescisão do contrato com o consórcio responsável, alegando descumprimento de cláusulas. Agora, um novo processo licitatório será necessário, atrasando ainda mais o projeto.

Enquanto isso, a população enfrenta o caos no trânsito e um transporte público precário. Ônibus lotados, sem ar-condicionado e com frequentes atrasos são a realidade dos cuiabanos que dependem do sistema para trabalhar e estudar.
O impacto econômico e social
A indefinição do modal de transporte tem gerado prejuízos não só para os usuários, mas também para o comércio. A Câmara de Dirigentes Lojistas de Cuiabá (CDL Cuiabá) realizou um levantamento com empresários da Avenida do CPA, uma das mais afetadas pelas obras. O estudo apontou que 90% das empresas foram impactadas negativamente, com uma queda média de 36% no faturamento. Dois em cada dez estabelecimentos precisaram demitir funcionários para reduzir custos.
Em resposta, a CDL Cuiabá pediu ao governo medidas para minimizar os prejuízos, incluindo redução temporária de impostos e linhas de crédito especiais. A entidade também sugeriu uma campanha para incentivar os consumidores a comprarem nos estabelecimentos afetados.
Milhões desperdiçados e nenhum transporte
Enquanto o impasse continua, a população assiste ao desperdício de dinheiro público. Os trilhos importados da Polônia e os vagões fabricados na Espanha, que poderiam transportar 160 mil pessoas por dia, estão parados há anos. A desmontagem do VLT já custou R$ 89 milhões apenas na retirada dos trilhos.
Enquanto isso, quem depende do transporte público continua sofrendo.
Futuro incerto

Agora, o governo estadual precisa decidir o que fazer. O rompimento do contrato com o consórcio do BRT pode gerar uma multa de R$ 135 milhões, e uma nova licitação levará meses para ser concluída. Enquanto isso, Cuiabá segue sem solução definitiva para seu sistema de transporte, acumulando dívidas e frustrações.
O que era para ser um legado da Copa do Mundo virou um símbolo do desperdício de dinheiro público e da incompetência administrativa. O VLT não andou, o BRT não saiu do papel e a população continua sem transporte.