Halloween na Mesa da Sala de Jantar

Produção espanhola une comédia e drama ao terror para trazer um daqueles filmes que ficam martelando na cabeça do público por dias

La Mesita del Comedor, traduzido como A Mesa da Sala de Jantar, me fez ter reações que há muito não sentia.

Como o diálogo bem escrito causa grande impacto em nossos sentimentos.

O filme espanhol começa com um embate entre marido e mulher dentro de uma loja de móveis.

Ele está completamente vidrado numa mesinha que será usada para tomar café com as visitas ou comer um aperitivo.

“Temos de tratar os objetos como nossos parentes mais próximos. Temos de dar-lhes amor. Se comprar a mesa e tratá-la bem, ela te trará felicidade”, é o mantra que o vendedor picareta usa para convencer Jesus a vencer o embate com Maria e adquirir a peça.

E meio a essa resistência da mulher, que acha a mobília feia e cara, o casal expõe o momento de fragilidade em que vivem.

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Ele diz, na frente do vendedor, que ela é controladora. Que ele aceita tudo o que ela propõe. Faz tudo o que ela quer, e que não queria ter filhos quando ela engravidou de Cayetano. Nome aliás, que ele, sem pudor, diz achar horrível na frente de um total estranho.

Por outro lado, a situação mostra que Maria não cede nem um único desejo do marido. Não importa, pra ela, que a mesa, pra ele, tenha tanta importância.

“O vidro da mesa é quase inquebrável”, reforça o vendedor.

O casamento deles, não.

Está prestes a ruir.

Por orgulho, ele decide mostrar que é macho e leva a mesa pra casa.

Mais pra frente, vamos ouvi-lo dizer que foi a pior decisão de sua vida.

E que impacto essa decisão terá na família.

E que impacto essa decisão terá na plateia.

O filme, segundo o IMDB, um portal que reúne informações de cinema, foi rodado em apenas 10 dias. Isso mostra o quanto uma boa ideia bem conduzida é capaz de se destacar entre grandes produções.

Um adendo aqui. Quatro dias antes de assistir à La Mesita, eu assisti ao novo filme de M. Night Shyamalan – diretor que gosto muito, por sinal – sem trocadilhos.

A ideia é ótima. O FBI arma uma arapuca para pegar um serial killer induzindo-o a levar a filha ao show de uma cantora pop.

Mas a partir do momento que o filme deixa o ginásio onde acontece o espetáculo, tudo se perde.

Não é o que acontece com o discreto filme espanhol, vencedor de vários prêmios por festivais do mundo todo.

Algo vai acontecer com a mesa – eu não vou contar de jeito nenhum o que – e, a partir desse acontecimento, acompanhamos a tensão que envolve um dos personagens ligado diretamente ao incidente.

O diretor Caye Casas constrói a trama de forma a nos colocar dentro do apartamento do casal.

Somos cúmplices do absurdo que nos é mostrado.

Acompanhamos as situações com uma vontade gigantesca de gritar a verdade para os personagens que não a conhecem.

As interpretações nos fazem acreditar em todo o sofrimento.

Em como aquela situação poderia ser real.

Como uma situação cotidiana pode nos colocar numa situação de terror intenso.

Foi o que o dinamarquês Não Fale o Mal fez com maestria a ponto de ter sido refilmado em língua inglesa (leia a coluna aqui).

Nada pode ser mais assustador do que tomarmos uma decisão por educação, no caso de Não Fale o Mal, ou por orgulho, em La Mesita, e isso nos custar muito caro. Não no sentido financeiro.

A tragédia é mostrada com uma sensibilidade incrível.

E escala quando o irmão de Jesus e a namorada chegam para um almoço em família combinado dias antes.

O esforço para se manter a aparência mesmo diante de algo tão medonho ter acontecido é de nos fazer perder o fôlego e segurar o choro no fundo da garganta a cada frase que indica uma normalidade impossível.

Risos nervosos vão surgir para amenizar a tensão.

Um leve humor negro é misturado ao drama e ao terror vividos por Jesus e Maria.

A Mesa da Sala de Jantar está disponível, legendada, no Youtube.

É uma ótima pedida pra ser servida neste Halloween.

Mas Alex, você ficou louco? O Dia das Bruxas foi ontem, quinta, dia 31. Hoje é dia 01/11, sexta-feira.

Eu sei, mas no embalo das redes de cinema que resolveram comemorar a data até o dia 6/11 com reexibição de clássicos do terror, também decidir esticar o Halloween.

Entre um intervalo e outro nos filmes exibidos, como O Exorcista, Terrifier 3, A Morte do Demônio – A Ascensão, Hereditário, O Telefone Preto, O Iluminado e Tubarão, veja esse filme espanhol.

Tenha certeza que como os clássicos do gênero, ele vai ficar na tua cabeça por muito tempo.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toda Sexta é 13, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.