Dark Matter: quando você trai a si mesmo

Imagine ser traído por si mesmo.

E digo, literalmente, nada de papo de coach ou de melhor amigo justificando suas escolhas erradas.
Você encontra você e vira sua vida de cabeça pra baixo.

Consegue imaginar qual seria sua reação?

Se está difícil pensar nessa piração, a Apple TV+ nos dá uma ajuda para visualizar esse caos. É Dark Matter (Matéria Escura, em tradução livre), série produzida e estrelada por Joel Edgerton.

Ele é Jason Dessen, um cientista com futuro brilhante que deixa a carreira de lado para assumir Daniela (Jennifer Connelly), a namorada grávida com quem se casou.

Numa noite, já com o filho adolescente, ele sai para comemorar a vitória do melhor amigo num importante prêmio da área científica.

E recebe uma proposta tentadora: largar o enfadonho emprego de professor de física para trabalhar num projeto milionário. Mas em outra cidade.

Sabendo que custará a tranquilidade da família já adaptada ao local onde moram, resolve atrasar o retorno pra casa e andar a esmo.

No caminho, é raptado por um homem mascarado.

Forçado a dirigir até um galpão abandonado, tem o celular roubado, a aliança arrancada do dedo e é obrigado a trocar de roupa com o agressor.

Drogado, acorda só no dia seguinte, dentro de uma empresa de alta tecnologia. E com sua vida totalmente mudada.

Está numa sala cheia de pessoas de branco que o aplaudem quando abre os olhos.

Uma mulher, Amanda (a brasileira Alice Braga), o recebe com dúvidas e preocupação. Ela diz que é a sua esposa e que ele ficou mais de um ano fora.

Como? Se o ataque pelo mascarado foi há menos de 24 horas?!

E como ela é sua esposa? Ele é casado com Daniela!

Desesperado, Jason consegue fugir do complexo e vai para a casa onde mora. Só que encontra todos os móveis mudados. E, novamente, Amanda, clamando para que ele se acalme.

No quarto do filho, no lugar de mangás e videogames, uma coleção de prêmios científicos, inclusive aquele que o amigo é que tinha recebido no dia anterior.

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Dark Matter é uma loucura deliciosa que brinca com a premissa do multiverso.

O mascarado que atacou Jason é, na verdade, ele mesmo. Uma versão que tem uma vida diferente da do professor de física e pai de família.

Esse Jason agressor é o que, no passado, escolheu abandonar Daniela e seguir a carreira científica.
Decisão que levou a mulher a abortar e nunca ter tido filhos. Nesse universo paralelo, ela é uma artista plástica de sucesso.

E Jason, um gênio premiado e empresário de sucesso. Rico, famoso, mas vazio por dentro.

Nada do que conquistou foi capaz de fazê-lo superar a decisão que o separou do grande amor da vida.
Para resgatar o passado, não cria uma máquina do tempo, mas consegue um equipamento para furar a membrana do multiverso.

E simplesmente troca de lugar com seu eu feliz e pai de família.

No mundo do Jason de sucesso, o professor busca a artista plástica Daniela para conseguir algum apoio e tentar reverter a situação.

Enquanto no universo do professor, o Jason mascarado chega em casa e recupera o tempo que perdeu longe da antiga namorada.

Por enquanto, só dois capítulos estão disponíveis.

O terceiro episódio será disponibilizado no próximo dia 14.

Eu gostaria muito de ter essa máquina que fura universos para acessar um mundo em que o capítulo já estivesse disponível.

Realmente, tô curioso e ansioso pra saber onde isso vai dar.

Sem tecnologia suficiente pra isso, há um outro caminho.

Dar um pulo numa livraria física ou acessar uma loja digital de livros.

Dark Matter é baseado no best seller homônimo de Blake Crouch.

O romance explica, com uso da física quântica, a possibilidade de realidades distintas existirem ao mesmo tempo.

Isso, sem dúvida, traz novo tipo de medo.

Encontrar com você mesmo.

Será que você é tão bom quanto pensa?

Cuidado.

O ser de luz, que você acha que é, pode, na verdade, não passar de uma matéria escura.