The Last of Us: série da HBO não é só para fãs do game

Em um programa de entrevistas, ainda em preto e branco, um cientista faz um alerta para um cético apresentador: — O fungo precisa se alimentar para viver, então, devora o hospedeiro a partir de dentro e vai ocupando os espaços. Mas não deixa a vítima morrer. Ele controla seu cérebro e a transforma num fantoche.O […]

Em um programa de entrevistas, ainda em preto e branco, um cientista faz um alerta para um cético apresentador:

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Fungo pode controlar humanos, mas sem matá-los

— O fungo precisa se alimentar para viver, então, devora o hospedeiro a partir de dentro e vai ocupando os espaços. Mas não deixa a vítima morrer. Ele controla seu cérebro e a transforma num fantoche.
O entrevistador engole em seco. Junto com os espectadores. A ideia de ser devorado vivo e ainda ser controlado por esses seres é a ameaça que move The Last of Us, série que estreou na HBO, inspirada num dos jogos de videogame mais legais da história.

O primeiro episódio: “Quando estiver perdido na escuridão” alcançou 4,7 milhões de espectadores na estreia e já é o segundo piloto mais visto da HBO em mais de uma década, apenas atrás de A Casa do Dragão.

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Ele narra a saga de Joel (Pedro Pascal, o agente antidrogas Javier Peña, da primeira temporada de Narcos, da Netflix) e Ellie (Bella Ramsey), a guerreira mirim Lyanna Mormont , de Game of Thrones, da própria HBO). Ele, um pai solo que presencia uma tragédia com a filha e ela, uma menina que guarda um segredo que pode ajudar no fim da epidemia que assolou o mundo e transformou grande parte da população em zumbis cheios de fungos famintos por carne humana.

Não tem medo de fungo? A abertura da série já vai começar a mudar a tua opinião. As formas horripilantes desses organismos se espalham pela tela fazendo-nos imaginar como seria se um negócio desses estivesse crescendo dentro de nosso corpo até o ponto de comandar nosso sistema nervoso central. É realmente assustador.

E não demora muito para Joel, a filha Sarah e o irmão dele, Tommy, se depararem com a infestação. A série é fiel ao jogo eletrônico e, inclusive, reproduz alguns takes para deixar os fãs do jogo eletrônico endoidecidos.

Mas atenção: a série The Last of Us está longe de ser indicada apenas para jogadores de videogame saudosistas.

O primeiro episódio deixa isso bem claro: há a afinidade imediata do público com o pai que trabalha duro na construção civil para dar o melhor para a filha órfã da mãe. É aniversário dele e ela prepara uma surpresa tocante. A menina de coração gigante ainda faz companhia pra um casal de vizinhos idosos que cuida de uma vovó em cadeira de rodas e sem conseguir se comunicar.

Preste a atenção na cena em que a garota vai escolher um DVD na casa deles. Preste bem a atenção no que acontece atrás dela.

É ali que o terror de The Last of US vai começar a nos transformar em fantoches, totalmente manipulados pelo roteiro, levados pelas cenas maravilhosas de desespero e correria pelas ruas e paralisados pelo fato que muda de vez a vida de Joel.

Vinte anos depois, o mundo é dividido em guetos seguros e rigorosamente controlados para evitar a entrada da pandemia – meu Deus, como é impossível não reviver o isolamento em tempos de covid! Não fosse a vacina, será que viveríamos assim? Quem ousa sair da fortaleza vigiada por militares é enforcado em praça pública para servir como exemplo. Quem entra, passa por um detector de fungos. Se for positivo, já era.

Os corpos dos infectados são queimados no meio da rua. E Joel é um dos que retiram adultos e crianças mortos do caminhão para jogar na fogueira. Ele, aliás, sobrevive de qualquer trabalho lícito e ilícito. É um contrabandista que arma um plano para fugir e procurar o irmão.

Tudo dá errado pra ele e certo para Ellie, a menina protagonista. Ex-moradora de um orfanato, ela vai acabar numa jornada pelas perigosas ruas norte-americanas infestadas de zumbis.

No jogo, tínhamos a chance de viver diretamente o medo de nos escondermos nas horas certas, a tensão de nos esgueirarmos por trás de monstros para surpreendê-los com mortes silenciosas e até mesmo, claro, a adrenalina de descer a lenha nos bichos com qualquer tipo de arma que possa acertar os fungos salientes dos corpos tomados. A derrota dos monstros, muitas vezes, passava justamente pela boa mira em acertar esses organismos até enfraquecê-los. E como é difícil ter sangue frio pra fazer isso quando um ex-ser humano todo deformado parte correndo pra cima de você! O coração quase sai pela boca enquanto você aperta os botões do joystick com desespero. Uma delícia!

Na série, o controle está totalmente nas mãos dos produtores e dos diretores. Inteligentemente, a HBO traz para a produção executivos da Naughty Dog, estúdio que criou game. Fidelidade para quem gosta do jogo, atração para quem nunca ouviu falar de Ellie ou Joel.

Particularmente, não sou muito fã de adaptações de jogos eletrônicos para o cinema. Não por achar que não rendem. Silent Hill, jogaço de terror, teve um ótimo filme em 2006 (Terror em Silent Hill) ao manter a atmosfera de suspense e de loucura onde você não sabe os horrores que vão te pegar na próxima cena. A sequência, de 2012 nunca deveria ter existido.

Tomb Raider e Uncharted, dois dos meus jogos favoritos, não alcançaram as expectativas desejadas. A série de Resident Evil, da Netflix, acabou cancelada na primeira temporada. E dos sete filmes feitos para o cinema, só o primeiro vale mesmo a pena. Os demais, na minha opinião, são muito repetitivos. Mortal Kombat, Hitman, Super Mario, Monster Hunter, Street Fight, todos colocaram a migração do jogo para as telas em pause nas expectativas dos fãs.

Mas The Last of Us impressionou no primeiro episódio e faz com que a gente não veja a hora de apertar o play no próximo domingo, quando o segundo será liberado. Se as adaptações anteriores pareciam perdidas, com “Quando estiver perdido na escuridão” a HBO colocou um holofote novamente sobre elas. Novas adaptações de games virão, com certeza. Esperamos a mesma qualidade e respeito desta. Que os estúdios não sejam os últimos a perceber isso.

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Toda Sexta é 13, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.