Cecil Hotel, um hotel bom pra passar uma noite… eterna
Alex Mendes fala sobre o Cecil Hotel, considerado um dos mais mal-assombrados do mundo, construído na década de 20 em Los Angeles e que já inspirou produções audiovisuais
Dois serial killers como moradores. Uma série de suicídios, duas mortes sem esclarecimento e uma sensação de estar sempre observado pelos corredores.

Esse é o cartão de visitas do Cecil Hotel, considerado um dos mais mal-assombrados do mundo. Construído na década de 20 em Los Angeles, inspirou a quinta temporada da série American Horror Story (American Horror Story: Hotel, EUA, 2015) e um documentário em exibição na Netflix: Cena do Crime – Mistério e Morte no Hotel Cecil (EUA, 2021).
O empreendimento no centro da capital do entretenimento mundial tem 14 andares e foi inaugurado com 700 apartamentos. O objetivo era receber empresários e turistas, mas, com a quebra da Bolsa, os proprietários tiveram de apelar. Em contraste com o luxo do lobby, os quartos passaram a ter preços populares.
As histórias em torno dele são as mais escabrosas possíveis. Em 1944, uma jovem de 19 anos, hospedada no hotel, foi até o banheiro e deu à luz uma criança. Ela disse não saber estar grávida e achou que a criança estivesse morta. O que ela fez? Jogou o bebê pela janela. Mais tarde, os legistas afirmaram que ele estava vivo até atingir o chão.
Outra queda revelou situação também absurda. Pauline Otton, de 27 anos, se jogou de uma das janelas. Um suicídio com duas mortes. Ela caiu sobre um pedestre, George Giannini, de 65 anos.
Blogueiros, youtubers, podcasters e jornalistas vivem divulgando a lista das tragédias no Cecil Hotel. A wikipedia contabiliza 13 suicídios. Mas houve também assassinatos. O mais emblemático não aconteceu nas dependências do hotel, porém, a vítima teria sido vista no bar do Cecil e há quem diga que ela era hóspede.
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O caso ficou conhecido como o da Dália Negra – e chegou ao cinema. A aspirante a atriz Elizabeth Short, de 23 anos, foi brutalmente torturada e assassinada. Seu corpo teve o sangue drenado e foi partido ao meio antes de ser abandonado em um terreno baldio de Los Angeles. Até hoje a polícia não descobriu o autor.
O crime foi na década de 40. Se tivesse ocorrido na década de 80, Richard Ramirez, com certeza, estaria entre os suspeitos. Ele morou no Cecil Hotel durante o período em que aterrizou o berço de Hollywood como Nightstalker, o perseguido da noite.
Um dos mais famosos serial killers dos EUA, Ramirez estuprava e matava as suas vítimas até ser preso e condenado à pena de morte. Morreu antes, de câncer, na prisão.
Na década de 90, foi a vez do austríaco Jack Unterweger se hospedar no Cecil. Ele escrevia uma matéria sobre prostituição para uma revista. Nas horas de folga, matou três garotas de programa. Também foi preso e se matou na cela.
Tudo isso já seria suficiente pra justificar o terror que envolve essa construção. Mas o Cecil, além de voraz, parece insaciável para devorar almas e para criar mistérios.
Em 2013, o hotel era quase como um albergue, recebendo estudantes do mundo todo com preços melhores e sem mais aquela fama de abrigar homicidas, estupradores, prostitutas e traficantes.
A jovem canadense Elisa Lam, então com 21 anos, simplesmente desapareceu nas dependências do prédio. Esse quebra-cabeças é retratado na série da Netflix. Imagens de câmeras do circuito interno de monitoramento do prédio mostram uma cena surreal.
Elisa aparece no elevador. Ela parece assustada, age como se estivesse sendo perseguida por alguém, tentando acionar os botões sem efeito algum e se escondendo dentro da estrutura. De vez em quando, olha desconfiada pra fora.
Quando deixa o elevador, faz uns movimentos estranhos com as pernas e, principalmente, com os braços. São realmente gestos sem sentido algum. Ela volta pro equipamento e aperta vários botões. Nada de a porta se fechar. Até que ela sai e vira à esquerda no corredor. Adivinha? A porta se fecha. E depois abre. E fecha de novo.
Já sentiu o arrepio percorrer a espinha?
A maneira como ela foi encontrada cerca de um mês depois é impressionante. Ela estava nua, afogada dentro de uma caixa d’água na cobertura do prédio. Foi nadar no lugar e acabou morrendo? Teoria que seria sustentada não fossem dois detalhes: o acesso à cobertura tem alarme que não foi disparado.
E a única abertura para entrada na caixa d´água não é suficiente para passagem de uma pessoa. Como ela entrou, então? Por que estava sem roupas? E, pior, algumas das roupas que ela vestia enquanto estava no elevador desapareceram.
Em seu corpo, nenhum sinal de violência ou vestígios de droga. A morte foi considerada acidental.
Em 2021, o Cecil deixou de ser hotel para se transformar numa gigantesca moradia popular. Famílias de baixa renda assistidas pela ONG Skid Row Housing Trust foram para o lugar. Em março deste, o Los Angeles Times publicou uma reportagem afirmando que a entidade está com sérios problemas financeiros, o que coloca novamente o destino do hotel assombrado em dúvida.
Se alguém estiver pensando: “Por que ninguém faz uma demolição desse prédio, então?”.
A resposta é simples. Desde fevereiro de 2017, a fachada do Cecil Hotel foi tombada, ou seja, tornou-se um monumento histórico-cultural, um marco da cidade, que só pode ser mexido com autorização de um conselho municipal.
Ou seja, quem quiser, pode agendar uma visitinha.